Alfredo Bronzato é bacharel e licenciado em História pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e mestrando no Programa de
Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(UNIRIO). Entre os dias 29 de maio e 1º de junho passado, participou do XIII
Simpósio Nacional da Associação Brasileira de História das Religiões, realizado
na Universidade Federal do Maranhão (UFMA); e no dia 28 de julho corrente irá
ministrar a palestra “Panorama Histórico do Concílio de Trento” por ocasião do
II Seminário de Liturgia do Vicariato Episcopal Oeste, cujo mote é “Celebrando
os 50 anos do Concílio Ecumênico Vaticano II”.
Prof. Alfredo, como você avalia do
ponto de vista histórico o Concílio Vaticano II?
Quando se trata de abordar um concílio do ponto
de vista histórico, deve-se, antes do mais, ter em mente que ele é
simultaneamente um ponto de chegada e um ponto de partida: recolhe a experiência
eclesial de um certo período e, à sua luz, confirma ou redireciona a vivência
cristã – não modificando aquilo que é o núcleo precioso e inegociável da fé que
guarda e prega, fé que recebeu dos santos apóstolos, mas fazendo-a inteligível e
pertinente aos tempos que se põem. Foi assim em toda a milenar história do
movimento cristão, de Nicéia ao Vaticano II. Um concílio deve, portanto, ser
entendido não apenas em função dos movimentos intestinos da estrutura eclesial
em um dado momento, mas também em relação com o que acontecia extra
muros quando de sua convocação, realização e aplicação.
Para usar uma frase de impacto, o Vaticano II
foi uma resposta positiva do catolicismo à modernidade. Quando uso este adjetivo
para qualificar a relação entre o catolicismo e a modernidade não quero atribuir
a ele um valor moral, afirmando que o Vaticano II foi uma resposta boa ao mundo
moderno, mas quero recuperar um outro significado do termo positivo: o
Concílio Vaticano II foi uma resposta construtiva, baseada em fatos dados, a um
mundo que havia experimentado talvez mais mudanças nos últimos cento e cinquenta
anos do que nos quinhentos ou mil anos precedentes. Deste ponto de vista, o
Concílio Vaticano II foi inverso ao Concílio Vaticano I, que, em linhas gerais,
recusou-se ao diálogo com a modernidade e foi marcado por tendências
centrípetas, por uma tentativa de fechar a Igreja – e Igreja compreendida quase
que só em termos de hierarquia sacerdotal – em torno de si mesma. Por outro
lado, sob este mesmo prisma, pode-se interpetar o Vaticano II como uma
continuação possível do Concílio de Trento, que trouxe para a vida da Igreja
como elementos constitutivos fenômenos que são tipicamente modernos, como a
valorização geral da disciplina e do imperativo missionário, não mais restritos
a círculos monásticos, de pessoas tidas como especiais, como essencialmente
distintas das outras.
Creio que a grande questão do Concílio Vaticano
II – e que ainda deve ser a nossa – é como se pode ser católico não apenas
depois que certa filosofia proclamou a morte de Deus, mas como se pode ser
cristão depois que as atrocidades do imperialismo, as duas grandes guerras, os
campos de concentração, as bombas atômicas e certos arranjos econômicos
internacionais que condenam milhares à vergonha e à fome, proclamaram a morte do
homem. Reafirmar com ainda mais veemência que a Igreja era uma sociedade
perfeita, que não precisava do mundo para nada, insistir apenas nos aspectos
mais individualistas da fé cristã, nas devoções, em certa escatologia, seria
pecar por omissão, e, portanto, trair a missão que têm os cristãos de ser sal da
terra e luz do mundo.
A velha instituição havia aparentemente
resistido bem ao choque da Segunda Grande Guerra Mundial: os seminários eram
numerosos, ainda que fosse preocupante a queda das vocações; os bispos
continuavam em seus lugares, informados e eficientes; a frequência aos
sacramentos declinava tão lentamente que se imaginava ser esta uma tendência
passageira… Sustentava-se, portanto, o mesmo tipo de ilusão de vitalidade que os
encantados tradicionalistas de hoje sustentam quando apontam um certo
tradicionalismo das igrejas locais da África e da Ásia como contraponto ao
desânimo dos católicos de paragens que nos últimos séculos foram marcadas por
uma grande presença institucional da Igreja; como se elas não fossem passar
pelos mesmos problemas que o Velho Mundo católico passou e passa. Como eu
escrevi, a Igreja de modelo tridentino havia resistido bem apenas
aparentemente. Houve resistências heróicas ao totalitarismo nazista,
gestos corajosos que não podem ser esquecidos, mas muitos eram os que, com certa
razão, questionaram publicamente a atitude de certos membros do episcopado
diante da Ocupação hitlerista. Na França, por exemplo, apenas seis bispos
opuseram-se publicamente à legislação contra os judeus e à política de
colaboração com a Alemanha de Hitler – colaboração na qual se enganjaram, aliás,
importantes setores da tradicional direita católica francesa. O
cardeal-arcebispo de Paris, por outro lado, foi proibido por Charles de Gaulle
de participar da cerimônia comemorativa da vitória, realizada na Catedral de
Notre-Dame, por ter dado apoio público ao governo do Marechal Pétain…
Houve uma tendência a esquecer esta fissura
entre conformismo e resistência (que também se verificou nas relações entre a
Igreja Católica e as ditaduras civil-militares latino-americanas), mas um difuso
mal-estar se elevou dela. O mesmo cardeal-arcebispo de Paris foi um dos que
reconheceu que havia qualquer coisa de novo que deveria ser levado em
consideração pela Igreja: no seu livro Avanço ou declínio da Igreja ele
constatou a crise das vocações, o avanço rápido da indiferença religiosa e o
surgimento de uma cultura operária cuja gramática as autoridades católicas
desconheciam. Muitos padres e bispos reconheceram as regiões sob seus cuidados
nesta análise, e este pequeno volume foi traduzido quase que imediatamente para
as principais línguas do planeta. Na França criou-se uma importante Missão
Interior: destacaram-se padres das paróquias para que mergulhassem inteiramente
no mundo operário, vivendo como leigos, morando nas periferias, trabalhando nas
fábricas, tendo como único objetivo serem reconhecidos pelo que eram por seus
companheiros de trabalho, dando testemunho desta forma da Mensagem do qual se
faziam portadores. Muitas outras iniciativas semelhantes foram experimentadas
mundo afora, principalmente na Itália, na Inglaterra e na América Latina.
Tratou-se de uma experiência límitrofe, que acabou gerando abusos. Roma logo se
conscientizou dos riscos teológicos e políticos envolvidos e fez com que se
interrompesse o empreendimento dos padres-operários em 1954; quase dois terços
dos cĺérigos nele envolvidos pedem após seu término sua volta ao estado leigo.
Encontraremos um esquema análogo na época do Papa João Paulo II, quando se
colocou com maior força o problema das teologias ditas da libertação, mas o que
quero destacar é que os franceses, com alguma falta de tato, assinalaram que
havia uma questão urgente e ainda sem solução: a da relação entre a Igreja
enquanto instituição e o novo mundo que surgia diante de seus olhos e longe de
seu abraço.
É nesse momento de crise – e, como nos ensina
Teilhard de Chardin, a crise não é necessariamente uma ruptura, mas uma situação
que nos obriga a (re) pensar –que encontramos o homem certo no lugar
certo.
Quando Angelo Roncalli sucedeu o Papa Pio XII –
que foi uma figura cada vez mais isolada, que com a idade foi se aferrando mais
e mais à compreensão de que a Igreja deveria permanecer exatamente onde estava –
pensava-se que ele seria um moderado e aceitável Papa de transição. O gorducho e
bonachão Patriarca de Veneza – que não era um teólogo ou um burocrata, mas
historiador (estudioso da vida de Carlos Borromeu), diplomata e pastor –
entretanto, não temia a mudança e recusava vivamente a visão daqueles que viam
apenas ruína e calamidade ao seu redor. Erguendo a bandeira da esperança contra
o – até certo ponto muito justificado – pessimismo de alguns líderes
eclesiásticos, o Papa João XXIII valorizava a sensibilidade democrática e a
liberdade de consciência que são características do mundo contemporâneo, e
acreditava na capacidade do ser humano mudar o mundo para melhor. Sabia também
que, às vezes, é necessário se mudar muito para se permanecer o mesmo, e que se
a Igreja Católica quisesse ser fiel à sua missão era necessário participar das
alegrias e angústias dos homens e mulheres dos novos tempos, sendo, entre eles,
sinal de esperança e fermento de transformação. Contra forte e persistente
oposição por parte da Cúria Romana, convocou um concílio geral para reavaliar o
papel da Igreja no mundo, rompendo com a visão triunfalista (e míope) que,
reelaborando o argumento agostiniano, tanto havia marcado o catolicismo no
século anterior com a afirmação de que a humanidade se separava em dois mundos:
a Cidade de Deus, encastelada no Vaticano, e a Cidade de Satanás, o assim
chamado “mundo moderno”, com seus apóstatas, hereges e cismáticos.
Diversos setores eclesiais reagiram com
ceticismo com relação à possibilidade e à necessidade de um novo concílio
ecumênico; perguntavam-se: por que convocar um se o Papa havia sido nomeado
infalível menos de cem anos antes? Da mesma forma reagiram os governos seculares
e outros setores sociais. Antes da realização do Concílio adiantou-se a Cúria na
preparação dos documentos, muitos dos quais foram rejeitados ou inteiramente
reformulados nas sessões conciliares pelo episcopado reunido. Os bispos do mundo
inteiro foram consultados acerca de quais assuntos deveriam ser abordados nesta
imprevista reunião, e, se grande parte deles se calou (não se sabia, afinal, se
era o caso de algum teste de ortodoxia e fidelidade), houve posicionamentos
interessantíssimos – como, por exemplo, o de D. Afonso Ungarelli, MSC,
responsável pela Prelazia de Pinheiro, no norte do Maranhão. D. Ungarelli, que
era químico formado, um homem prático, percebeu com acuidade a importância do
momento histórico que vivia e fez recomendações a Roma sobre a necessidade de se
traduzir o breviário e os ritos dos sacramentos para que a Igreja se fizesse
entender mesmo entre os caboclos maranhenses…
Quando, em 11 de outubro de 1962, os 2.500
padres conciliares entraram em procissão no Vaticano o espetáculo foi
impressionante para os observadores externos e internos: nunca se havia
assistido semelhante reunião, a uma assembléia de mitrados de tão diversas cores
e idiomas. Não se tratou de um concílio europeu, como boa parte dos concílios do
segundo milênio do cristianismo, mas de um concílio ecumênico no sentido forte e
primeiro da expressão, como os grandes concílios da Antiguidade Tardia. 33% dos
participantes provinham da Europa Ocidental, incluídos aí os membros da Cúria
Romana; 13% eram oriundos dos Estados Unidos e do Canadá; 22% da América Latina;
10% da Ásia; 10% da África Negra; 3,5% do mundo árabe; 2,5% da Oceania. Por
razões políticas, as lideranças católicas cujos rebanhos estavam em países
comunistas foram subrepresentadas: apenas 14 dos 27 bispos iuguslavos; 20 dos 65
poloneses; 4 dos 8 alemães orientais; 2 dos 16 húngaros; 3 dos 15 tchecos; e
nenhum bispo russo, romeno, chinês ou norte-vietimanita. Diante deste grupo
heterogêneo, João XXIII manifestou-se de maneira claríssima: afastou-se dos
profetas da desventura, fez o elogio da misericórdia contra a pregação da
severidade, eximiu-se de proferir condenações e anátemas, expressou seu desejo
pela unidade ecumênica, com os fiéis não-cristãos e com todo o gênero humano,
pediu que o Concílio não fosse uma reunião intestina, mas que correspondesse às
necessidades dos diversos povos.
Pode-se fazê-lo remontar a antes disto, mas, de
uma forma geral, este é o começo da história do Concílio Vaticano II…
O Papa João XXIII participa da celebração da Divina
Liturgia de São João Crisóstomo durante o Concílio Vaticano II. (Imagem copiada
de: http://tinyurl.com/d4rr78b).
|
O Concilio Vaticano II promoveu muitas
mudanças na Igreja e, com elas, novos desafios surgiram. Quais mudanças e
desafios o senhor destacaria?
Comecemos pelas mudanças de cúpula,
literalmente. Com o Concílio Vaticano II, o centralismo romano, bem estabelecido
fazia séculos, teve de ceder diante dos episcopados – o que, aliás, está
plenamente de acordo com as mais antigas tradições da Igreja. Citarei um único
exemplo, mas um exemplo muito significativo. Depois do período das Cruzadas
algumas Igrejas Cristãs Orientais entraram em plena comunhão com a Igreja
Católica por várias razões. Menosprezadas por seus homólogos (e vizinhos)
Ortodoxos como uniatas, elas também tiveram de enfrentar a ignorância e
a desconfiança da parte da Cúria Romana, além de tentativas eventuais de
romanização por parte de prelados de origem ocidental, normalmente apoiados por
autoridades coloniais. Durante as sessões do Vaticano II o Patriarca
Greco-Melquita Máximo IV Sayegh defendeu estas tradições orientais em alto tom,
lembrando que catolicismo e latinismo não são sinônimos; recusou-se mesmo a
falar em latim, alegando que não havia sentido nisto, pois as línguas litúrgica
e pastoral de seu uso corrente eram o grego e o árabe. O Concílio reconheceu os
cristãos orientais em comunhão com Roma não apenas como ritos, variações
eclesiais exóticas que supostamente existiam apenas por liberalidade do Bispo de
Roma, mas como igrejas verdadeiras, plenas, com uma teologia, uma
espiritualidade, um governo eclesiástico e um direito canônico próprios.
Mais ainda: com o Vaticano II, o catolicismo
enquanto instituição propôs-se a descer de sua cidadela e dialogar em pé de
igualdade não apenas com os filhos diversos – como os católicos orientais – suas
irmãs mais próximas – a Ortodoxia Grega e as confissões chamadas
pré-calcedonianas – e irmãos mais velhos – os judeus – mas também com todos
aqueles que poderiam ser considerados, poucos anos antes da convocação do
Concílio, seus inimigos naturais – muçulmanos, protestantes, humanistas
seculares, comunistas. Com o Concílio Vaticano a Igreja Católica de fato
experimentou uma mudança significativa em seu perfil histórico, animada pelo
duplo e convergente movimento da refontização (voltar às fontes dos
primeiros dias do cristianismo) e do aggiornamento (“atualização”, ou
seja, ler as fontes da fé à luz do tempo presente).
Quando se fala com raiva ou com saudosismo da
Igreja Católica como a Igreja das cruzadas, das inquisições, da missionação
violenta, da destruição das culturas não-européias, da rejeição ao pensamento
científico, da pregação monomaníaca do inferno e da demonização do corpo, não se
está falando – ou não se deveria estar falando – da Igreja Católica pós-Vaticano
II, que define sua missão como a de transmitir a fé aos novos tempos ajudando a
construir nestes o Reino de Deus. Trata-se de uma orientação que não é acessória
para quem nas últimas décadas e hoje quer se chamar de católico. À luz desta
consideração, desqualificar o Vaticano II como sendo apenas um concílio
pastoral, tratando-o como se fosse uma espécie de concílio
optativo, é prova de desconhecimento e má-fé: toda mudança pastoral
pressupõe e causa uma mudança teológica e um dado contexto histórico; todo novo
contexto histórico causará mudanças teológicas e pastorais; toda mudança
teológica pressupõe e causa uma mudança pastoral em um dado contexto histórico;
e mudanças deste tipo pontuam a história da Igreja e dão-lhe vitalidade. De
fato, de um ponto de vista agnóstico (que deve ser a saudável perspectiva da
historiografia acadêmica), ou seja, que não considere a Revelação cristã e,
fiada nesta, creia que há a ação do Espírito Santo sobre a Igreja, é esta
capacidade adaptativa do catolicismo –manifesta no Concílio Vaticano II – o que
constitui a sua pertinência a tantas pessoas e coletividades por um período tão
longo. Não se trata de coisa banal, a ser ignorada.
Por outro lado, eu não saberia responder se a
Igreja Católica, hoje, realmente mudou no sentido que o Papa João XXIII desejava
que ela mudasse quando convocou o Concílio Vaticano II. Os debates conciliares,
a morte e sucessão de João XXIII, a busca pelos consensos necessários: tudo isto
fez modificar o seu rumo original, como sempre acontece em eventos deste tipo,
eventos em que há debate e em que se manifesta a divergência. Há ainda de se
considerar as dificuldades de aplicação e a penetração variável em diferentes
contextos eclesiais das decisões desta Assembléia, as posições refratárias em
escalas diversas, as distorções das propostas conciliares, as recusas, as novas
mudanças históricas. Além disso, o Concílio levantou muitas expectativas, mas
deixou de lado muitos problemas que ainda esperam por solução. Qual deve ser a
atitude diante dos que não estão dispostos a dialogar? Qual deve ser o nível de
participação da Igreja enquanto instituição no processo político democrático?
Qual o papel da liberdade de consciência e de expressão diante do posicionamento
oficial ou oficioso da hierarquia eclesiástica em questões que não são de fé?
Evidentemente, isso não desqualifica o Vaticano II, mas, ao contrário, ressalta
a responsabilidade que os católicos têm hoje em relação ao patrimônio religioso
que herdaram daqueles que os precederam na fé. A fé cristã, de alicerces bem
estabelecidos, não é algo fechado, mas algo que se tece na prática e reflexão
cotidianas dos tempos mutáveis. O passado é um cemitério de verdades abandondas
(algumas justamente) e devemos hoje lidar com questões que não haveria como
serem postas ou respondidas pelos santos apóstolos ou por nenhum dos concílios
do passado – pessoas e eventos que devem lembrar-nos de nossas responsabilidades
enquanto católicos para com a formação do rosto da Igreja em nossos dias.
Para encerrar, gostaria de citar um trecho do
livro Tu és Pedro (Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2001), interessante e
acessível obra de síntese de história da Igreja, cujo autor, Georges Suffert,
recentemente falecido, foi um personagem notável: jornalista e escritor francês,
participou da Juventude Estudantil Católica e comprometeu-se publicamente com a
denúncia das atrocidades cometidas pelos militares franceses quando das guerras
de independência do Marrocos e da Argélia. Escrevendo a respeito do contexto
histórico do Concílio Vaticano, Suffert lucidamente destacou que: “(…) Talvez
tenhamos entrado, com a eleição de João XXIII, em um dos períodos mais
surpreendentes da história da Igreja. Enfraquecida, conservadora, muitas vezes
considerada moribunda por alguma das boas cabeças do século XIX, dividida contra
si mesma, [com o Concílio Vaticano II] ela inicia uma espécie de ressurreição
cuja importância e alcance muitos cristãos não avaliam. (…) Não que esse
concílio tenha cumprido tudo o que prometeu; poder-se-ia até afirmar o
contrário. Mas o abalo provocado dentro da imensa máquina eclesiástica modificou
as regras do jogo. A Igreja não foi mais a mesma. (…) era preciso acreditar, com
uma ingenuidade ou uma inteligência de santo, que o mundo esperava uma linguagem
ao mesmo tempo muito antiga e totalmente nova. Ninguém pode prever aonde nos
levará essa mutação da Igreja Católica. O impulso cairá tão depressa quanto
surgiu? O movimento ecumênico vai se apagar ou, ao contrário, levar tudo o que
estiver na frente? Nossos filhos assistirão à reunificação do cristianismo? E a
humanidade do novo milênio constatará que sua vontade de confiança no homem não
tem muito sentido se não se enraizar no antiquíssimo profetismo
judaico-cristão?” (pp. 452-453.463).
Isto posto, prossegue o autor de Tu és
Pedro: (…) O futuro permanece totalmente imprevisível. Mas o presente já
permite entrever novos horizontes. Caminhamos todos juntos de um mistério a
outro.” (p. 464).
Para saber mais:
IGREJA GRECO-MELQUITA CATÓLICA.
A Igreja Greco-Melquita no Concílio.
Discursos e notas do Patriarca Máximo IV e dos prelados de sua Igreja no
Concílio Ecumênico Vaticano II. São Paulo: Loyola / Eparquia Melquita do
Brasil, 1992. (Parcialmente disponível em:
http://tinyurl.com/c776zon).
SUFFERT, Georges.
Tu és Pedro:
santos, papas, profetas, mártires, guerreiros, bandidos. A história dos 20
primeiros séculos da Igreja fundada por Jesus Cristo. (Tradução de
Adalgisa Campos da Silva). Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. (Parcialmente
disponível