50 anos do Concílio

O Concílio Vaticano II 
XXI Concílio Ecumênico da Igreja Católica, foi convocado no dia 25 de dezembro de 1961, através da bula papal "Humanae salutis", pelo Papa João XXIII. Este mesmo Papa inaugurou-o, a ritmo extraordinário, no dia 11 de outubro de 1962. O Concílio, realizado em 4 sessões, só terminou no dia 8 de dezembro de 1965, já sob o papado de Paulo VI.
Nestas quatro sessões, mais de 2 000 Prelados convocados de todo o planeta discutiram e regulamentaram vários temas da Igreja Católica. As suas decisões estão expressas nas 4 constituições, 9 decretos e 3 declarações elaboradas e aprovadas pelo Concílio. Apesar da sua boa intenção em tentar actualizar a Igreja, os resultados deste Concílio, para alguns estudiosos, ainda não foram totalmente entendidos nos dias de hoje, enfrentando por isso vários problemas que perduram. Para muitos estudiosos, é esperado que os jovens teólogos dessa época, que participaram do Concílio, salvaguardem a sua natureza; depois de João XXIII, todos os Papas que o sucederam até Bento XVI, inclusive, participaram do Concílio ou como Padres conciliares (ou prelados) ou como consultores teológicos (ou peritos).


Em 1995, o Papa João Paulo II classificou o Concílio Vaticano II como "um momento de reflexão global da Igreja sobre si mesma e sobre as suas relações com o mundo". Ele acrescentou também que esta "reflexão global" impelia a Igreja "a uma fidelidade cada vez maior ao seu Senhor. Mas o impulso vinha também das grandes mudanças do mundo contemporâneo, que, como “sinais dos tempos”, exigiam ser decifradas à luz da Palavra de Deus".
No ano 2000, João Paulo II disse ainda que: "o Concílio Vaticano II constituiu uma dádiva do Espírito à sua Igreja. É por este motivo que permanece como um evento fundamental não só para compreender a história da Igreja no fim do século mas também, e sobretudo, para verificar a presença permanente do Ressuscitado ao lado da sua Esposa no meio das vicissitudes do mundo. Mediante a Assembleia conciliar, [...] pôde-se constatar que o património de dois mil anos de fé se conservou na sua originalidade autêntica".
Basílica de São Pedro, Vaticano.
Todos os concílios católicos são nomeados segundo o local onde se deu o concílio episcopal. A numeração indica a quantidade de concílios que se deram em tal localidade. Vaticano II portanto, indica que o concílio ocorreu na cidade-Estado do Vaticano, e o número dois indica que foi o segundo concílio realizado nesta localidade.
Os concílios que são reuniões de dignidades eclesiásticas e de teólogos são um esforço comum da Igreja, ou parte da Igreja, para a sua própria preservação e defesa, ou guarda e clareza da e da doutrina No caso do Concílio Vaticano II, a necessidade de defesa se fez de modo universal, porque as situações contemporâneas de proporções globais abalaram a Igreja. Isto fez com que a autoridade universal da Igreja, na pessoa do Papa, se encontra persuadida a convocar um concílio universal ou ecumênico. A força do Concílio não reside nos bispos ou em outros eclesiásticos, mas sim no Papa, como pastor universal que declara algo como sendo próprio das Verdades reveladas (e, por isso, implica a obediência dos católicos). Fora disso, o Concílio tem apenas poder sinodal. Porém, quando o concílio está em comunhão com o Papa, e se o Papa falasse solenemente (ex cathedra) de matérias relacionadas com a fé e a moral, o episcopado plenamente reunido torna-se também infalível.


Cardeal dom Odilo Pedro Scherer - Arcebispo de São Paulo diz que:
"No dia 11 de outubro de 1962, o papa João XXIII abria de modo solene do Concílio Ecumênico Vaticano II. No dia 11 de outubro deste ano, Bento XVI abrirá as comemorações do cinqüentenário desse Concílio, que foi o evento mais marcante da Igreja Católica no século XX e um dos mais importantes de toda a sua história, quase bimilenar.
No Concílio Ecumênico, reunião dos bispos da Igreja Católica inteira com o Papa, são definidas as questões fundamentais da vida da Igreja. Sua referência e imagem é sempre a assembleia apostólica de Jerusalém, ainda no início do Cristianismo, quando os apóstolos se reuniram para decidir sobre uma questão posta por Paulo e Barnabé, destacados missionários entre os povos pagãos (cf Atos dos Apóstolos, 15). O que se decide no Concílio Ecumênico vale para a Igreja inteira, ali representada pelos seus responsáveis maiores. Ao longo da História, os Concílios Ecumênicos foram 21, realizados sobretudo nos primeiros séculos do Cristianismo; nos últimos 500 anos foram celebrados apenas 3: o de Trento, no século XVI; o Vaticano I, no século XIX e o Vaticano II, no século XX.
Quais questões, tão importantes, teriam motivado João XXIII a convocar, de maneira surpreendente, no dia 25 de janeiro de 1959, um Concílio da Igreja? Também Pio XI e Pio XII, seus predecessores imediatos, tiveram essa ideia e até mandaram fazer estudos em vista da convocação de um novo Concílio. No entanto, para o estupor dos cardeais que o rodeavam, foi justamente o Papa Roncalli, eleito com 78 anos de idade, que a levou a efeito ainda nos primeiros meses de seu pontificado.
É importante situar aquela decisão. O mundo ainda se recuperava da catastrófica 2ª. guerra mundial; sob o impulso da ONU, coisas novas iam aparecendo, como a cooperação internacional para o desenvolvimento dos povos e um novo surto de crescimento econômico, sobretudo no hemisfério Norte; nações africanas iam ficando independentes... Ao mesmo tempo, surgiam tensões e conflitos locais, a pobreza dos países periféricos ficava mais evidente e novos sistemas de dependência se configuravam entre os países. Preocupação maior, porém, era a guerra fria, que contrapunha de maneira cada vez mais ríspida os dois blocos dominantes: o capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o socialista, liderado, pela União Soviética; a estabilidade da paz e os avanços no respeito à dignidade humana, conseguidos ao preço de muita dor, sangue e ódio, estavam novamente ameaçados.
João XXIII queria que a Igreja e os católicos fizessem a sua parte, para melhor colaborarem com os esforços de toda a comunidade humana para assegurar ao mundo paz verdadeira e, ao homem, o desenvolvimento digno. Quis uma Igreja em diálogo com o mundo, atenta aos tempos novos, com seus desafios, oportunidades e problemas. Formado em História e fino diplomata, ele tinha uma percepção aguda dos problemas da humanidade e já trazia no coração a encíclica Pacem in Terris (sobre a paz entre todos os povos da terra), que publicaria no dia 11 de abril de 1963, pouco antes de falecer; queria que, em todo o mundo, a presença e a participação efetiva dos cristãos na vida da sociedade ajudassem os povos a encontrarem os rumos do convívio digno, justo, respeitoso e pacífico.
Esta mesma preocupação, depois, foi expressa de modo eloqüente na Constituição Pastoral Gaudium et Spes (As alegrias e as esperanças...), um dos documentos mais importantes do Concílio, aprovado em sua última sessão, em 1965. Paulo VI, o grande sucessor de João XXIII, logo em seguida, em 1967, escreveu a encíclica Populorum Progressio (Sobre o desenvolvimento dos povos...), tratando novamente do que seria necessário para um verdadeiro desenvolvimento, sobretudo a partir das relações entre países ricos e pobres. A recente encíclica de Bento XVI, Caritas in Veritate (A caridade na verdade...), vai nessa mesma linha de preocupações, agora, no contexto do início do século XXI.
Mas João XXIII olhava para a situação da própria Igreja e queria que o Concílio a levasse a uma profunda renovação, ao crescimento da fé católica, a aprofundar sua auto-compreensão, como povo de batizados, no qual todos têm sua parte na missão recebida de Cristo; o Concílio deveria promover a renovação das normas da vida e das organizações eclesiais, adequar aos novos tempos a Liturgia, a formação do clero, a ação missionária, sua postura diante das outras Igrejas cristãs e religiões não cristãs. Os conceitos de renovação, diálogo e participação são fundamentais para a compreensão do Vaticano II.
O Concílio teve a participação de mais de 2.500 bispos, em 4 sessões, ao longo de 4 anos. Produziu 16 Documentos sobre vários assuntos e contou com a liderança de 2 Papas: João XXIII, que faleceu após a 1ª. sessão, e Paulo VI. Produziu uma transformação sem precedentes na Igreja e mudou de maneira evidente sua face, sem, no entanto, mudar sua identidade e missão.
Decorrido meio século desde aquela memorável assembleia, a Igreja põe-se agora a avaliar o caminho já percorrido. Os frutos, certamente, foram e estão sendo imensos. Houve acertos e erros na interpretação do Concílio e os Papas deste período tiveram sempre o cuidado de indicar à Igreja o caminho da reta aplicação das decisões conciliares. Josef Ratzinger, ainda jovem teólogo, acompanhou como perito seu bispo, o cardeal de Munique, nos trabalhos conciliares. Hoje, nas responsabilidades de papa, ele tem repetido, com João Paulo II, que o Concílio não perdeu sua atualidade e continua, qual bússola, a indicar, de maneira segura, os rumos para a Igreja no século XXI."

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