sábado, 14 de abril de 2012

O Espírito Santo e a Palavra de Deus

O Espírito Santo e a Palavra de Deus
Por: Vanderson de Sousa Silva
Mestrando em Teologia Sistemático-Pastoral (Teologia Litúrgica) na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), o projeto de pesquisa gravita em torno da teologia das Orações Eucarísticas, tendo como orientador o Prof. Dr. Pe. Luiz Fernando Ribeiro Santana e apoio do CNPQ. Mestrando em Educação pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF. Graduado em Filosofia (IFITEPS), Pedagogia (UNIRIO) e graduando-se em Ciências Sociais (UFF). Contato: semvanderson@hotmail.com.
1. INTRODUÇÃO


Benfeitor supremo, em todo o momento, habitando em nós sois o nosso alento.[1]


Nosso trabalho intenta perquirir a pneumatologia em sua relação com a Palavra de Deus, como um binômio indissociável. Para tanto, utilizar-se-á da obra de Achille M. Triacca e principalmente da Verbum Domini[2], no que tocam ao tema. Contudo, não se olvide que nossa pesquisa não pretende esgotar o tema, mas estabelecer relações entre a Exortação Pós-Sinodal Verbum Domini e a Pneumatologia no verbete de Triacca.

2. Aspectos da pneumatologia e sua relação com a Palavra em Triacca

Triacca no verbete “Espírito Santo” do Dicionário de Liturgia inicia com uma definição acerca da relação entre a liturgia e pneumatologia, assim, assevera que a liturgia é essencialmente epifania do Espírito de Cristo glorificado. Para o autor a liturgia é o locus privilegiado de comunicação do Espírito Santo que realiza a presença de Cristo e que, por sua vez, comunica-O à assembleia reunida.

Para Triacca, há uma relação íntima entre o Espírito Santo e a Liturgia, poder-se-ia, mesmo afirmar, uma relação indissociável entre a Palavra de Deus e o Espírito Santo, principalmente no opus litúrgico. De fato, não é possível uma compreensão autêntica da Revelação cristã fora da ação do Espírito Paráclito. Isto se deve ao fato de a comunicação que Deus faz de Si mesmo implicar sempre a relação entre o Filho e o Espírito Santo, a quem, Santo Ireneu de Lião realmente chama “as duas mãos do Pai”.

Triacca afirma que a Liturgia é epifania do Espírito Santo:


"Se a celebração litúrgica não for sinal do Espírito, ela nada será. Com efeito, a verdadeira essência da ação litúrgica consiste em ser-epifania-do-Espírito Santo. Ora, o Espírito, por meio da Escritura, foi iconógrafo, isto é, operou no hagiógrafo a revelação do ícone do Pai, que é Jesus Cristo (cf. 2Cor 4,4; Cl 1,15). Em Maria, ele foi iconoplasta, ou seja, é plasmador do próprio ícone (do Verbo).

Na ação litúrgica, ele simultaneamente iconógrafo, iconoplasta e iconóforo, isto é, portador do ícone do Pai presencializado e vivificado[3].

Portanto, o Espírito Santo -plasma, porta e escreve o ícone da Trindade no orante da prece litúrgica. Segundo, Triacca, por meio da Sagrada Escritura o Espírito Santo foi iconógrafo[4], ou, seja o mesmo Espírito, escreveu/pintou a imagem de Cristo nos escritores inspirados. Por ser inspirada pelo Espírito Santo que a Verbum Domini 16 afirma que “sem a ação eficaz do ‘Espírito da Verdade’ (Jo14,16), não se podem compreender as palavras do Senhor”, pois Ele é o que operou no hagiógrafo.[5]
Desta relação entre o Espírito Santo e a Escritura, poder-se-ia vislumbra na própria História da Salvação consignado por escrito pelos hagiógrafos, particularmente, na vida de Jesus, este, é concebido no seio de Maria por obra do Espírito Santo (Mt 1,18; L c 1,35); ao iniciar a sua missão pública nas margens do Jordão, vê-O descer sobre Si em forma de pomba (Mt 3,16); neste mesmo Espírito, Jesus age, fala e exulta (L c 10, 21); é no Espírito que Se oferece a Si mesmo (Hb 9,14).
Quando está para terminar a sua missão – segundo narra o evangelista São João –, o próprio Jesus relaciona claramente o dom da sua vida com o envio do Espírito aos seus (Jo 16,7). O ressuscitado derrama o Espírito Santo (Jo 20, 22), tornando os discípulos participantes da sua própria missão (Jo 20, 21).
O Espírito Santo ensinará aos discípulos todas as coisas, recordando-lhes tudo o que Cristo disse (Jo 14,26), porque será Ele, o Espírito de Verdade (Jo 15, 26), a guiar os discípulos para a Verdade (Jo 16,13). Por fim, como se lê nos Atos dos Apóstolos, o Espírito desce sobre os Doze reunidos em oração com Maria no dia de Pentecostes (At 2,1-4) e anima-os na missão de anunciar a Boa Nova a todos os povos.

Na teologia patrística era comum aos Padres afirmarem a necessidade do auxílio pneumático para compreender a própria Escritura, visto que a mesma, é inspirada pelo Pneuma, assim, é abundante as assertivas que a Verbum Domini no n. 16 apresenta dos Padres da Igreja, tais como Jerônimo, Gregório Magno, que sublinha, de modo sugestivo que o mesmo Espírito forma e interpreta a Escritura – “Ele mesmo criou as palavras dos Testamentos Sagrados, Ele mesmo as desvendou” e por fim, Ricardo de São Vítor, que se utiliza da imagem dos “olhos de pombas” para iluminar, instruir e compreender o texto Sagrado.

A relação entre a Escritura e o Espírito Santo é uma relação indissociável, para tanto, apresentar-se-á o que o Ordo Lectionum Missae afirma sobre esta relação:

· A OLM n. 9: “Para que a Palavra de Deus realmente produza nos corações aquilo que se escuta com os ouvidos, requer-se a ação do Espírito anto, por cuja inspiração e ajuda a Palavra de Deus se converte no fundamento da ação litúrgica e em norma e ajuda de toda a vida. Assim, pois, a atuação do Espírito Santo não só precede, acompanha e segue toda a ação litúrgica mas também
sugere ao coração de cada um tudo aquilo que, na proclamação da Palavra de Deus, foi dito para toda a comunidade dos fiéis [...]”.[6]

Para Sorci [7] é na liturgia a Escritura volta a ser Palavra viva, pois se “recria o contexto original no qual a palavra foi pronunciada e pelo qual foi fixado, por esta razão o escrito volta a ser Palavra viva”. Assim, a presença da Palavra e de Cristo na Palavra proclamada é possibilitada pelo Espírito Santo que falou pelos profetas, que agiu em Jesus e que inspirou os hagiógrafos, Ele é o hermeneuta do Verbo, pois plasmou o Verbo em Maria – iconoplasta. A SC 7 acerca da presença de Cristo na liturgia, assevera que Ele esta presente “na sua palavra, pois é Ele que fala ao ser lida na Igreja a Sagrada Escritura”.

Outro aspecto destacado por Triacca refere-se à teologia anamnética ou do memorial, somente pelo Espírito Santo é que a Igreja pode pela ação litúrgica epifanar e realizar a presença de Cristo no Hodie[8].

É por obra do Pneuma que as mirabilia Dei na história humana não ficaram aprisionadas no passado, mas podem ser atualizadas, presentificadas no “Hoje” da ação litúrgica, não sendo uma
“piedosa recordação, mas é de fato ‘anamnese – memorial’ histórico-salvífico”[9]. Há por obra do Espírito uma abertura ao passado que é atualizado no “hoje”, mas com perspectiva do futuro escatológico.
Assim afirma Triacca:

"É o Espírito Santo que vivifica no hodie litúrgico o heri salvífico, antecipando o et in saecula (cf. Hb 13,8). E enquanto a assembleia litúrgica reza ‘Pai’ (cf. Rm 8,15.26-27; Gl 4,6), clama também no Espírito ‘Maran-atha’ (‘Vem, Senhor Jesus!’), suplicando ‘Kyrie, eleison’ (‘Senhor, tende piedade!’) (cf. 1Cor 12, 3), a fim de que a ‘doxa theô’ (a glória prestada a Deus) em Cristo, com Cristo, por Cristo seja verdadeira, íntima, profunda, exaustiva”.


O Espírito Santo aparece como o grande propiciador da anamnese das ações salvíficas de Deus na história humana, que se torna pelo operar do mesmo Espírito, Historia Salutis. Por isto, a Palavra de Deus proclamada na ação litúrgica é “Palavra de Salvação” no “Hoje litúrgico”, não é uma leitura do que aconteceu lá na Palestina, mas o que Deus fez e faz no Hoje da História da
Salvação.[10]

Interessante notar a contribuição de Karl Barth na relação entre a Palavra de Deus e o Espírito Santo, segundo o referido autor, Deus é livre, soberano e transcendente. Deus se dirige ao ser humano por intermédio de sua Palavra, ela é o único fundamento de toda a teologia.

A teoria barthiana da tríplice manifestação da Palavra relaciona-se à forma como Deus se comunica com o ser humano. A Palavra nos atinge de três modos, a saber: 1. o próprio Jesus Cristo, que é a Palavra revelada de Deus; 2. mediante o livro da Escritura, que é o testemunho a respeito de Jesus Cristo; 3. a proclamação da Palavra na Igreja, que comunica, através do Espírito Santo, o que diz a Escritura. De acordo com Barth, por meios naturais o homem é incapaz de ouvir essa Palavra, mas o Espírito Santo imprime a revelação no coração humano.

Nota-se que para Barth, a Palavra de Deus proclamada da Igreja é o lugar da comunicação de Deus com os homens. Poder-se-ia, mesmo afirmar, que é na Igreja, comunidade destinatária da Palavra que esta ganha pela ação do Espírito Santo atualidade e é fonte de Revelação e conhecimento de Deus.

Por fim a Verbum Domini no n. 16 sublinha que é significativo a relação entre o Espírito Santo e a Sagrada Escritura e apresenta duas orações antigas uma antes da proclamação: “Mandai o vosso Espírito Santo Paráclito às nossas almas e fazei-nos compreender as Escrituras por Ele inspiradas; e concedei-me interpretá-las de maneira digna, para os fiéis aqui reunidos delas tirem proveito” e a outra oração no final da homilia, numa epiclese assembleial:

“Deus salvador [...], nós Vos pedimos por este povo: Mandai sobre ele o Espírito Santo; o Senhor Jesus venha visitá-lo, fale à mente de todos e abra os corações à fé e conduza para Vós as nossas almas , Deus das misericórdias”.

Assim poder-se-ia concluir com as palavras de Triacca que propõe uma pastoral litúrgica em que o fiel compreenda que “na liturgia cada gesto é uma ‘proclamação’, cada palavra é um ‘anúncio’, cada celebração é um ‘evento salvífico’, cada pessoa é um ‘ostensório’ visível da presença e da ação invisíveis do Espírito Santo”.

Consciente deste horizonte pneumatológico, o Sínodo dos Bispos, desejou recordar a importância da ação do Espírito Santo na vida da Igreja e no coração dos fiéis relativamente à Sagrada Escritura: sem a ação eficaz do “Espírito da Verdade” (Jo 14,16), não se podem compreender as palavras do Senhor. Assim ser-nos-ia relevante ainda recordar as palavras de Santo Ireneu:
“Aqueles que não participam do Espírito não recebem do peito da sua mãe (a Igreja) o alimento da vida; nada recebem da fonte mais pura que brota do corpo de Cristo”. Tal como a Palavra de Deus vem até nós no corpo de Cristo, no corpo Eucarístico e no corpo das Escrituras por meio do Espírito Santo, assim também só pode ser acolhida e compreendida verdadeiramente graças ao mesmo Espírito Santo.

3. Considerações finais

Para Triacca a lugar privilegiado da Palavra de Deus é a Liturgia, pois para o referido autor, a própria liturgia é epifania do Espírito, assim sendo, o mesmo Espírito que inspirou o hagiógrafo e conduziu o discernimento da Igreja[11] na canonicidade dos textos Escriturísticos, revelará o sentido hermenêutico dos textos na Liturgia.

A própria Dei Verbum assim assevera que o lugar originário da interpretação da Escritura é a vida da Igreja[12], bem em consonância com a DV 12, que corrobora afirmando, por conseguinte, que deve “[...] a Sagrada Escritura ser lida e interpretada com o mesmo Espírito com que foi escrita”.

Portanto, a Palavra de Deus é fruto do Espírito e só pode dar frutos no Espírito.



4. Referências Bibliográficas

TRIACCA, A.M. "Espírito Santo" (verbete) in: Dicionário de Liturgia org. D. Sartore, A. M. Triacca. São Paulo: Paulinas, 1992.

DEI VERBUM. São Paulo: Paulinas, 2010.
5. Notas de rodapé
[1] Sequência da Solenidade de Pentecostes – Missa do Dia. A Sequência é um prolongamento meditativo do salmo responsorial (que veio substituir os antigos versí­culos aleluiático e o tracto) cantado a seguir à primeira leitura da Missa. Pelo séc. XI surgiram em grande número. A refor­ma tridentina fez uma seleção, que a reforma do Vaticano II reduziu ainda mais o número das Sequências. Atualmente só são obrigató­rias as Sequências da Páscoa e do Pen­tecostes, depois do
Aleluia. (IGMR 64).

[2] Este documento do Papa Bento XVI é denominado pós-sinodal, pois traz para toda a Igreja as conclusões do Sínodo dos Bispos, realizado no Vaticano, nos dias 6 a 26 de outubro de 2008, e que teve como tema "A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja". O conteúdo do documento é apresentado em três partes, articuladas entre si. A primeira, intitulada "A Palavra de Deus" trata do diálogo que Deus estabelece com a humanidade; a segunda, "A Palavra de Deus e a Igreja", apresenta a relação da Igreja com a Palavra de Deus; a terceira, "A Palavra de Deus no Mundo", trata da missão da Igreja como anunciadora da Palavra.

[3] TRIACCA, A.M. "Espírito Santo" (verbete) in: Dicionário de Liturgia org. D. Sartore, A.M. Triacca. São Paulo: Paulinas, 1992, p. 363.

[4] O termo iconografia vem do grego "Eikon", imagem, e "graphia", descrição, escrita.

[5] VD 16 afirma que São Jerônimo está firmemente convencido de que “não podemos chegar a compreender a Escritura sem a ajuda do Espírito Santo que a Inspirou”. A Dei Verbum afirma: (...) "a Sagrada Escritura é palavra de Deus enquanto escrita por inspiração do Espírito Santo". É fruto do Espírito e, consequentemente deve ser interpretada à luz do mesmo Espírito (cf. DV 12). O apóstolo São João apresenta o Espírito Santo como a inteligência e a memória do cristão: "O valedor, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse" (Jo 14,26). O Espírito nos capacita então para acolher como também para viver a palavra de Deus. Já a Constituição Dogmática Dei Verbum, do Concílio Vaticano II afirma que Deus se revela em Jesus pelo Espírito Santo: “Aprouve a Deus. na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade (cfr. Ef. 1,9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina (cfr. Ef. 2,18; 2 Ped. 1,4)”.

[6] Interessante notar o que Triacca afirma acerca da relação entre Palavra e Pneuma: “A Palavra
proclamada não seria ‘acolhida’ pelos fiéis sem a ação do sagrado Pneuma: ele é acolhimento da Palavra nos fiéis”

[7] SORCI, P. Dalla parola scritta ala parola celebrata.

[8] “[...] no hodie litúrgico, no qual aqui e agora celebrativo, efetua e realiza uma vez potr todas (cf. Hb 7,27) a salvação realizada por Cristo, isto é o ‘mistério pascal’ na sua plenitude”.

[9] TRIACCA, A.M. "Espírito Santo" (verbete) in: Dicionário de Liturgia org. D. Sartore, A.M. Triacca. São Paulo: Paulinas, 1992, p. 359.

[10] Para Triacca a “liturgia é a celebração-realização do mistério da salvação que se faz história, que é lembrada e revivida em plenitude” (p. 361).

[11] “O Espírito Santo, que anima a vida da Igreja, é que torna capaz de interpretar autenticamente as Escrituras. A Bíblia é o livro da Igreja e, a partir da imanência dela na vida eclesial, brota também a sua verdadeira hermenêutica”. VD 29.

[12] VD 29.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Formação e evolução do Tempo Pascal

I. FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DO TEMPO PASCAL

Até ao século IV, para os padres apostólicos, a Páscoa era uma celebração que continuava durante cinquenta dias, pois todo dia é festivo. A Quinquagésima Pascal começava com o dia da ressurreição do Senhor (Domingo da Páscoa) e se desenvolvia em oito domingos sucessivos. Já no século V a unicidade celebrativa da Quinquagésima Pascal tende a romper-se, visto que se criavam celebrações específicas durante a Quinquagésima, fazendo-os perder assim o seu aspecto unitário.

Com a Reforma Litúrgica do Concílio Vaticano II, procurou-se fazer com que os fiéis descobrissem a unicidade da Quinquagésima Pascal. O Missal do Papa Pio V, por exemplo, trazia como título: Dominica Resurrectionis (Domingo da Ressurreição), enquanto o Missal actual usa o título: Dominica Paschae in resurrection Dominis (Domingo de Páscoa na Ressurreição do Senhor). Deste modo, o Domingo de Páscoa não é o Domingo da Ressurreição, mas Domingo na Ressurreição do Senhor.

Analogamente, os domingos seguintes ao Domingo da Páscoa ao invés de se chamarem “Segundo Domingo depois da Páscoa”, por exemplo, passaram a chamar-se Domingo II da Páscoa Dominica secunda Paschae, para sublinhar a unicidade da Quinquagésima Pascal. Da mesma forma, foi abolido o Tempo da Ascensão Tempus Ascensionis ficando apenas os Domingos de Páscoa, que incluem o Domingo da Ascensão.

Para o Pentecostes, foi suprimida a Oitava de Pentecostes, que constituia contra-senso e comprometia a teologia da Quinquagésima Pascal.[1] Em relação ao Lecionário, só a Liturgia Romana mandava ler as cartas apostólicas que não tinham ligação alguma com o tempo celebrado; as outras liturgias, porém, liam os Actos dos Apóstolos e o Apocalipse.

E foi elaborada a seguinte temática de leituras, de acordo com os domingos da Quinquagésima:
Domingo de Páscoa: Cristo ressuscitado.
Domingo II: a comunidade dos que crêem em Cristo morto e ressuscitado (domingo de S. Tomé).
Domingo III: Cristo ressuscitado aparece aos seus.
Domingo IV: a salvação passa através de Cristo, porta do redil e Bom Pastor.
Domingo V: a comunidade se constitui: os ministérios e a vida no amor mútuo.
Domingo VI: a expansão da comunidade e a promessa do Espírito.
Domingo VII: Ascensão, as testemunhas da glória de Jesus, a oração ao Pai.
Domingo VIII: o Pentecostes, a efusão do Espírito Santo sobre toda a Igreja.

II. OITAVA DA PÁSCOA
Tal como nas festas hebraicas (Ex 12,15; 19) a Páscoa cristã foi provida duma oitava, também chamada por “Semana da Páscoa”.
Esta semana começava pela vigília pascal, porque nela celebrava-se primitivamente a Oitava do Baptismo Pascal, e terminava no Sábado que antecedia o Domingo II da Páscoa, considerado como um único dia de festa.
Sob esta forma, a Oitava já existia desde o século IV, ao que Santo Agostinho considerou de Ecclesiae consuetudo[2], isto é, o costume da Igreja.

Devido à exigências da vida moderna, com o desaparecimento do baptismo dos adultos, esta Oitava perdeu o seu carácter baptismal e transformou-se em “Oitava da Ressurreição” e o oitavo dia ficou transferido para o Domingo II da Páscoa[3].No missal actual, o intróito, a sequência, o evangelho e o ofertório, da Oitava da Páscoa celebram a ressurreição de Cristo.

Toda a liturgia desta semana ensina que a Ressurreição é o princípio da nossa salvação. Ela é fonte da nossa renovação (epístolas e antífonas da comunhão) e por meio da celebração eucarística, procura a possibilidade de caminhar para a eternidade (secreta) para a qual nos abriu o acesso (colecta)[4].

Todas as primeiras leituras são extraídas do livro dos Actos dos Apóstolos, distribuídas de seguinte modo:
2ª feira: apresentação das testemunhas da ressurreição (Act 2,14-32); o Evangelho descreve o encontro de Jesus ressuscitado com as piedosas mulheres (Mt 28,8-12).
3ª feira: exortação à conversão na fé em Cristo ressuscitado e ao Baptismo (Act 2,36-41); o Evangelho fala da aparição de Jesus ressuscitado à Maria (Jo 20,11-18).
4ª feira: Pedro cura um paralítico, em nome de Jesus Cristo ressuscitado (Act 3,1-10) e Jesus se dá a conhecer aos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35).
5ª feira: Pedro prega sobre a morte do autor da vida para salientar a ressurreição de Jesus Cristo (Act 3,11-26); o Evangelho atesta a realização do anúncio feito pelos profetas: Cristo ressuscitou ao 3º dia (Lc 24,35-48).
6ª feira: sublinha-se que só em Jesus Cristo há salvação (Act 4,1-12); o Evangelho descreve a aparição de Jesus nas margens do lago de Tiberíades, onde come pão e peixe com os discípulos (Jo 21,1-14).No Sábado: se declara o anúncio pascal e, em Mc 16,9-15, Jesus envia os seus discípulos por todo o mundo a anunciar a Boa Nova a toda criatura.

O Domingo II da Páscoa, o sacramentário gregoriano intitula-o Dominica post alba. Hoje, com a renovação do Vaticano II, a Oitava da Páscoa chega ao fim com o Sabado in albis. Mas a Semana III da Páscoa começa na segunda feira depois do Domingo II da Páscoa.


III. TEOLOGIA DO TEMPO PASCALA

A teologia deste tempo é: O Jesus, que nos salva plenamente, segundo o plano de Deus, não é o Jesus de Natal e da Cruz, mas o ressuscitado e glorificado, Aquele que foi costituído pelo Pai como Messias e Senhor no pleno exercício do seu sacerdócio, Novo Adão e fonte do Espírito vivificante.

O mistério da ascensão, que é também parte integrante do Mistério Pascal, constitui a inauguração da realeza universal e cósmica do Senhor e do seu poder no mundo (Ef 1, 22-23).
O Tempo Pascal, em que Deus encerrou a celebração da Páscoa, conclui-se com a solenidade da vinda do Espírito Santo (o Domingo de Pentecostes) que leva ao cumprimento pleno o Mistério Pascal e revela a todos os povos os mistérios ocultos nos séculos, reunindo as linguagens da família humana na profissão duma única fé[7].
Na Páscoa a liturgia alcança o seu valor perene e existencial, que faz dela a razão de vida do cristianismo, não como proposição doutrinal, mas como momento em que se realiza o Mistério de Cristo (SC 2). É a partir do evento Pascal que a Páscoa de Cristo é colocada no centro da História da Salvação e no centro de toda liturgia [8].

Com a Páscoa toda Humanidade foi verdadeiramente liberta e salva. Por isso, a SC 5, vê a Ressurreição e a Ascensão de Cristo como a chave do Mistério Pascal, não se detendo a ressaltar apenas a natureza do evento, mas também o seu sentido escatológico: a Páscoa de Cristo pre-anuncia a Pascoa dos homens. Enquanto na Incarnação realiza-se a união da Humanidade com Deus, no Tempo Pascal manifesta-se a glória de Deus à Humanidade.


IV. CONCLUSÃO

Tempo Pascal é o período litúrgico que vai desde o Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor até a solenidade do Pentecostes. É constituído por 50 dias, ou seja, 8 semanas litúrgicas, por isso, também se chamado de Quinquagésima Pascal. Durante este tempo celebra-se o mistério salvífico de Cristo (Morte, Ressurreição, Ascensão e Pentecostes) como uma única festa, pois todos os dias são festivos.

Os primeiros 8 dias, formam a Oitava da Páscoa, celebram o Mistério Pascal com maior vigor e alegria como se fosse o mesmo dia da Ressurreição. No Tempo Pascal encontramos três solenidades que integram o Mistério Pascal (Páscoa do Senhor, Ascensão do Senhor e Pentecostes). Todos os dias cantam-se o Aleluia e o Glória.

Devido as exigências da vida moderna, a estrutura do Tempo Pascal foi sofrendo modificações até chegar a forma actual, segundo o Missal Romano, mas sem perder o seu sentido teológico e eclesial, que é de constituir o período mais carcante da vida da Igreja.

Bibliografia
MARTIMORT A. G., A Igreja em Oração – Introdução à Liturgia, Ed. Ora et Labora, 1965. VIDIGAL J. R., Anámnesis 1, Paulinas, São Paulo, 1991.
AUGÉ M., Anamnesis 5, O Ano Litúrgico – História, Teologia e Celebração, Paulinas, São Paulo 1991.
BERGAMINI A, Tempo Pascal, DL, Paulinas, São Paulo 1992.

[1] Cf. M. AUGÉ, Anamnesis 5, O Ano Litúrgico – História, Teologia e Celebração, Paulinas, S. Paulo 1991, p.132.
[2] Cf Ibidem, p. 136.
[3] Cf. A. G. MARTIMORT, A Igreja em Oração – Introdução à Liturgia, Ed. Ora et Labora, 1965. P. 821.
[4] Ibidem.
[5] Cf. M. AUGÉ, Op. cit, p.139.
[6] Idem, p. 140.
[7] Cf. A. BERGAMINI, Tempo Pascal, in Dicionário de Liturgia, Paulinas, S. Paulo 1992, p. 1201. [8] Cf. J. R. VIDIGAL, Anámnesis 1, S. Paulo, 1991, p 117.
Por: Jereminas Manuel. Acessado em http://jeremiasmanuel.blogspot.com.br/.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

LITURGIA DA CELEBRAÇÃO: IN COENA DOMINI

LITURGIA DA CELEBRAÇÃO: IN COENA DOMINI
A quinta-feira santa celebra três dádivas de Jesus Cristo à sua Igreja e à humanidade: o sacerdócio ministerial, o mandamento novo e a eucaristia. Tudo isso tem como fundamento o serviço, simbolizado no gesto do lava-pés.Datas e terminologiaA celebração da quinta-feira santa como memória especial da Ceia do Senhor tem sua primeira notícia histórica no Século IV.
O Sacramentário de Gelásio (século VII [?]) traz três missas: uma para a reconciliação dos penitentes que tinha a mesma antífona que cantamos hoje: "Nos autem gloriairi opportet in cruce" ("Nós, porém, nos gloriamos na cruz..."); a segunda missa era a Missa Crismal, da Bênção dos Santos Óleos e a terceira comemorava a Instituição da Eucaristia.No século VI e VII, a quinta feira santa era chamada de "Natalis Calicis".
Até antes da reforma, era chamada de "Feria V in Coena Domini". Após a reforma litúrgica, a terminologia passou a ser "Feria V Hebdomadae Sanctae" (Quinta-feira da Semana Santa) para a terminologia geral e, para as duas missas celebradas neste dia: "Ad Missam Chrismatis" para a missa crismal, realizada na quinta-feira santa pela manhã e "Missa vespertina in Cena Domini", para a Missa vespertina da Ceia do Senhor.
Com a missa vespertina da Ceia do Senhor tem início o Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. Celebra-se nesta noite, a Páscoa Ritual: aquilo que Jesus realizaria posteriormente na cruz, ele o fez em forma ritual dando à Igreja e à humanidade o sacramento da Eucaristia.
A antífona de entrada desta missa, do texto de Gl 6,14, anuncia o tema global de todo o Tríduo Pascal: a cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa glória; nele está a nossa vida e ressurreição e nele está a salvação e a libertação.
É a redenção presente no Mistério Pascal celebrado no Tríduo: Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.
No Missal de Pio V, que antecedeu o atual Missal de Paulo VI, o padre deveria consagrar duas hóstias grandes, uma das quais era colocada, depois da comunhão, num segundo cálice, coberto com pala, patena e véu, para a adoração ao Santíssimo, que dava prosseguimento à celebração.
Outra particularidade desta missa era a ausência do abraço da paz. Antigamente, porque os penitentes (aqueles que seriam reconciliados com a Igreja na Vigília Pascal) já haviam recebido o abraço da paz antes da missa e, nos séculos posteriores (Idade Média de modo particular), para se ter o cuidado de não cair no mesmo erro do beijo traidor de Judas Iscariotes.
Interessante perceber que o clero, inclusive os padres que participavam da missa, recebiam a comunhão somente do pão e das mãos do presidente da celebração.
Juntamente com a desnudação do altar, todas as pias de água benta deveriam ser esvaziadas e permanecer secas até a bênção da água lustral, na Vigília Pascal. Depois do Hino do Glória, os instrumentos eram calados, bem como os sinos e sinetas. Cantava-se a capela e, em vez dos sinos, batia-se a matraca, um instrumento sonoro de madeira, em respeito ao clima da Paixão de Jesus que já começava a ser celebrado nesta missa.
Alguns alegoristas do século IX, entre eles Amalário de Metz, denominava este gesto de jejum dos ouvidos.Característica do dia litúrgicoDuas celebrações marcam a quinta-feira santa: a Missa Crismal e a Missa da Ceia do Senhor. Por motivos pastorais, esta celebração poderá ser antecipada para 4ª feira santa.A Missa Crismal reúne em torno do Bispo o clero da diocese (padres e diáconos) e todo o povo de Deus, ou ao menos uma boa representação das comunidades paroquiais que formam a diocese.
Nesta missa são abençoados os óleos dos catecúmenos e dos enfermos e consagrado o Santo Óleo do Crisma. Uma vez que esta missa caracteriza-se como uma grande ação de graças a Deus pela instituição do ministério sacerdotal na Igreja, nesta missa, os padres presentes renovam as promessas sacerdotais.
A missa "In coena domini" (Ceia do Senhor) é celebrada ao anoitecer da quinta-feira santa. Nesta celebração faz-se memória da Instituição da Eucaristia e do mandamento novo. Após a homilia, pode-se realizar o rito do lava-pés (é facultativo), repetindo assim o gesto de Jesus que, na última ceia lavou os pés de seus discípulos (Cf. Jo 13,3-17).
No final da missa, depois da última oração da missa, o Santíssimo Sacramento é levado em procissão até um tabernáculo fora da igreja ou localizado na lateral da mesma, diante do qual, a comunidade é convidada a fazer adoração solene até a meia noite e, após este horário, a adoração é simples e silenciosa. Fora do rito, o altar é desnudado e todas as flores e enfeites são retirados da igreja.
Organização da celebração.
A celebração acontece em quatro momentos:
1 - Liturgia da Palavra = apresenta uma conexão entre Páscoa judaica e Páscoa cristã.
2 - Lava-pés = descreve em modo gestual a Páscoa de Cristo como serviço.
3 - Eucaristia = destaca o memorial da instituição da eucaristia ("neste dia" no Canon Romano).
4 - Reposição do Santíssimo = gesto de adoração pela presença do Senhor na eucaristia.
Pesquisa realizada por:Serginho Valle

segunda-feira, 2 de abril de 2012

TEOLOGIA E ESPIRITUALIDADE DO TRÍDUO PASCAL

Teologia e Espiritualidade do Tríduo Pascal
Ritos de Quinta-feira Santa iniciam ao ciclo de celebraçãos mais importantes no calendário da Igreja. Entre todas as semanas do ano, a mais importante para os cristãos é a Semana Maior, que foi santificada pelos acontecimentos que a liturgia celebra, da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor – o Mistério Pascal.
A peregrina do séc. IV, Etéria, começa a sua relação da semana santa em Jerusalém escrevendo: «O dia seguinte, domingo, é o começo da semana da Páscoa ou Semana Maior, como a chamam aqui». De facto, esta semana é o coração e o centro de toda a liturgia anual, nela se celebra o mistério da redenção, o grande sinal do amor de Deus salvador. «A Páscoa é o cume», assim resume esta festa um escritor dos primeiros séculos. O cristão entra nesta Semana com o espírito de paz interior e recolhimento.
A Quaresma foi um tempo de trabalho, disciplina, conversão, cerimónias penitenciais, agora chegou o tempo de descansar na Paixão de Cristo. «Deus amou tanto o mundo que lhe deu o Seu Filho Unigénito» (Jo. 3, 16). Toda a Paixão é sinal do amor de Deus, tornado visível em Jesus Cristo.
A devoção da Semana Santa nasceu da piedade dos primeiros cristãos de Jerusalém, onde Jesus sofreu a sua paixão. Por isso, desde os primeiros séculos, Jerusalém tornou-se lugar de peregrinações para os cristãos que gostavam de visitar os lugares da paixão.
Nós participamos nos mistérios de Cristo não apenas com o sentimento ou imaginação, mas antes de tudo com a fé. 2 – O tríduo pascal começa com a missa vespertina da ceia do Senhor, em Quinta-Feira Santa, alcança o seu apogeu na vigília pascal e termina com as vésperas do domingo de Páscoa. Todo este espaço de tempo forma uma unidade que inclui os sofrimentos e a glória da ressurreição.
O bispo de Milão, Santo Ambrósio, refere nos seus escritos os «três santos dias» e o bispo de Hipona, Santo Agostinho, nas suas cartas chama-os «os três sacratíssimos dias da Crucifixão, sepultura e ressurreição de Cristo».
A Quinta-Feira Santa está marcada pela instituição da Escritura, «verdadeiro sacrifício vespertino» (cf. 141, 2). O ritual proíbe a celebração da eucaristia sem fiéis e recomenda a concelebração, que confere à cerimónia litúrgica uma nota de eclesialidade eucarística e de unidade entre eucaristia e sacerdócio.
A cerimónia sugestiva e humilde do Lava-Pés orienta-se também para a Eucaristia. Os textos litúrgicos mostram a entrega de Jesus Cristo para a salvação da humanidade. Jesus celebra a Páscoa judia mas oferece o seu corpo e sangue em lugar do cordeiro imolado no Templo, para selar a Nova Aliança.
O Lava-Pés é sinal do «amor até ao fim» (Jo. 13, 1). A transladação solene do Santíssimo Sacramento, é um sinal de continuidade entre o sacrifício e a adoração da presença sacramental. A Sexta-feira Santa da Paixão do Senhor é constituída por uma liturgia austera e sóbria. O centro da celebração é uma «sinaxis» (assembleia litúrgica) não eucarística que na liturgia antiga se chamava «missa dos presantificados».
Os paramentos são vermelhos e a liturgia desenvolve-se em três momentos – a liturgia da Palavra, com a leitura do IV cântico do poema do Servo de Deus (Is. 52, 13), a carta aos Hebreus com a passagem do Sumo Sacerdote «causa de salvação para os que lhe obedecem» (Heb. 4, 14), e a Paixão segundo São João, o teólogo místico que vê na cruz a exaltação de Cristo.
Às leituras segue-se a oração universal; - a adoração da cruz com a antífona de origem bizantina «adoramos Senhor a vossa cruz… pelo madeiro veio a alegria a todo o mundo» e os impropérios nos quais Jesus reprova a ingratidão do seu povo; - a comunhão com o Pão eucarístico consagrado na tarde de quinta feira santa. A piedade popular gosta de participar na procissão do Enterro do Senhor e comove-se com a presença da Senhora da Soledade acompanhando o seu Filho morto.
A Sexta-feira é um dia de intenso luto e dor mas iluminado pela esperança cristã. A devoção à Paixão do Senhor está fortemente arreigada na piedade cristã. A peregrina Eteria, ao descrever as cerimónias em Jerusalém, por volta do ano 400, diz: «dificilmente podeis acreditar que toda a gente, velhos e jovens, chorem durante essas três horas, pensando no muito que o Senhor sofreu por nós».
A Igreja apresenta grande austeridade, nada distrai o nosso olhar do altar e da cruz, o povo cristão fica vigilante junto à cruz do Senhor e da Virgem da Soledade.
O grande Sábado Santo, é um dia de serena esperança e preparação orante para a ressurreição. Os cristãos dos primeiros séculos jejuavam neste dia como em sexta feira santa, era o tempo em que o esposo os tinha deixado (Mt. 2, 19).
O Ofício Divino é rezado perante o altar desnudado, presidido pela cruz e tem um acento de meditação e repouso. A piedade cristã ora perante a imagem da Virgem das Dores, «ela no grande Sábado, recolheu a fé de toda a Igreja… só ela entre todos os discípulos esperou vigilante a ressurreição do Senhor». (Missa da Virgem Maria).
A Vigília Pascal é uma vasta celebração da Palavra de Deus que continua com o baptismo e continua com a Eucaristia. Os símbolos são abundantes e de uma grande riqueza espiritual – o ritual do fogo e da luz que evoca a ressurreição de Jesus e a marcha de Israel no deserto guiado pela coluna de fogo; a liturgia da Palavra com Salmo e oração, percorrendo as etapas da história da salvação; a liturgia da iniciação cristã que incorpora novos filhos na Igreja; a renovação das promessas do baptismo e aspersão com a água benta que recorda a água do nosso baptismo; por fim a eucaristia que proclama a ressurreição do Senhor, esperando a sua última vinda (1 Cor. 11, 26).
A liturgia convoca de novo os fiéis para o «dia que fez o Senhor» na missa do dia. A piedade cristã realiza a procissão de Cristo ressuscitado, ornamentando as estradas, estalando foguetes, tocando sinos e ao som da música entoa o «Regina coeli» à mãe de Jesus. O Aleluia, que fora suprimido na Quaresma, aparece repetidas vezes em sinal de alegria e vitória, de forma que o Aleluia pascal se tornou a aclamação própria do mistério pascal.
A magnífica liturgia pascal põe em relevo uma nota escatológica que indica a meta para onde nos dirigimos seguindo Cristo e que São Paulo apresenta na carta aos Coríntios: «Sempre que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos a tua morte Senhor, até que venhas» (1Cor. 11, 26).
D. Teodoro de Faria, Bispo emérito do Funchal