domingo, 27 de maio de 2012

Por uma Ecclesia verdadeiramente Universa

Por uma Ecclesia verdadeiramente Universa

Tornar impossível qualquer pastoral litúrgica: esse é um dos riscos reais que surgem a partir da publicação da instrução Universae Ecclesia, do Papa Bento XVI, pondera Andrea Grillo. Na opinião do teólogo italiano, o “efeito perigosamente desorientador” do documento paira sobre todos.

Uma entrevista com o liturgista Andrea Grillo.

 

Andrea Grillo é filósofo e teólogo italiano, especialista em liturgia e pastoral. Doutor em teologia pelo Instituto de Liturgia Pastoral de Pádua, é professor do Pontifício Ateneu S. Anselmo, de Roma, do Instituto Teológico Marchigiano de Ancona e do Instituto de Liturgia Pastoral da Abadia de Santa Giustina, de Pádua. Desde 2007, leciona como professor convidado na Faculdade Teológica de Lugano, e, desde 2008, na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. Também é membro da Associação Teológica Italiana e da Associação dos Professores de Liturgia da Itália.

Por: Moisés Sbardelotto

Tornar impossível qualquer pastoral litúrgica: esse é um dos riscos reais que surgem a partir da publicação da instrução Universae Ecclesia, do Papa Bento XVI. Na opinião do teólogo italiano Andrea Grillo, especialista em liturgia pastoral, o “efeito perigosamente desorientador” do documento paira sobre todos. Se, com uma “ficção jurídica”, tornam-se contemporâneas duas formas diferentes de celebrar a missa e, além disso, objeto de escolha opcional, “cria-se uma situação híbrida e anômala, que logo revela ser uma confusão, com a qual se introduz uma grave descontinuidade na tradição do rito romano”, afirma.

Analisando questões específicas de cada um dos ritos – o tridentino e o do pós-Concílio Vaticano II –, Grillo também compara alguns de seus pontos teológico-litúrgicos centrais. E conclui: “Surpreende que o Papa Bento XVI tenha assumido uma teoria tão inconsistente no plano jurídico e com consequências tão incontroláveis no plano litúrgico, eclesial e espiritual”. Para ele, estar em comunhão significa poder ser sincero. “Na sinceridade e no confronto, tudo é pelo melhor. Só assim a Ecclesia se mostra verdadeiramente Universa, e os pontífices parecem verdadeiramente Summi”, resume.

Confira a entrevista.


IHU On-Line – Como o senhor interpreta a publicação da instrução Universae Ecclesiae no atual momento da Igreja? Em sua opinião, quais foram as reais intenções do Vaticano com essa medida?
Andrea Grillo – O documento Universae Ecclesiae estende o âmbito operativo do Motu Proprio Summorum Pontificum , ou seja, a extensão pessoal e territorial de uma pretensão de paralelismo ritual que instaura uma covigência entre o rito ordinário e o rito extraordinário, o que – já à primeira vista – se revela incoerente, ineficaz e gravemente perigoso para a comunhão eclesial.
Com a pretensão de permitir uma dupla vigência de formas diferentes e não harmônicas do mesmo rito romano, determina-se progressivamente um conflito indomável entre tempos, espaços, hábitos, ritos, calendários, ministérios, códigos, competências diversas. A extensão refere-se tanto às habilitações subjetivas ao rito, ou seja, os critérios com que os sujeitos podem reivindicar direitos a respeito, quanto às finalidades objetivas do rito, que, mais explicitamente, são definidas como “pastorais”.

Na realidade, esse documento, apesar das boas intenções, corre o risco de tornar impossível qualquer pastoral litúrgica, já que tem um efeito perigosamente desorientador sobre todos: principalmente sobre os bispos, que perdem o controle das dioceses, depois sobre os padres e, enfim, também sobre os leigos, pelo fato de subtrair da Reforma a sua necessidade.


IHU On-Line – Em termos teológico-litúrgicos gerais, o que diferencia o rito extraordinário (tridentino) e o rito ordinário (pós-Vaticano II)? Que mistério e que Igreja são ressaltados em cada um deles?
Andrea Grillo – Trata-se de duas formas do mesmo rito, das quais a mais recente (pós-Vaticano II) é mais antiga do que a tridentina. É útil ler um livro de François Cassingena-Trevedy, que se intitula Te igitur, do qual se entende bem como o rito tridentino é um rito “tipicamente moderno”, que hoje relemos de modo individualista, subjetivo e burguês.

A passagem dessa primeira forma moderna do rito romano à segunda forma, pós-conciliar, comunitária, relacional, simbólico-ritual, aconteceu por meio de um concílio e de uma longa fase de reforma, que foi causada pelos limites, pelas lacunas, pelas unilateralidades do rito tridentino, dos quais a Igreja havia se dado conta progressivamente a partir do século XIX.

A passagem que a Reforma quer promover refere-se ao sujeito que celebra (do padre individual à relação assembleia/ministros), ao rito (que não é mais só para ser observado por um indivíduo, mas deve ser celebrado por uma comunidade), à relação com Deus (que, de monológica, se torna dialógica), à palavra de Deus (que agora tem espaço, visibilidade sacramental e riqueza muito mais significativa), ao papel da comunhão (que agora é feita por todos como uma ação ritual da missa e não mais como devoção privada).

Todas essas passagens representam os diversos estágios de um mesmo rito romano. É preciso notar que as duas formas estão em continuidade (e garantem continuidade) na sua sucessão diacrônica. Se, com uma ficção jurídica, tornam-se essas formas diferentes contemporâneas e objeto de escolha opcional, cria-se uma situação híbrida e anômala, isenta de certezas e de orientação, que logo revela ser uma confusão, com a qual se introduz uma grave descontinuidade na tradição do rito romano.

A continuidade é garantida pela sucessão de formas diferentes do mesmo rito, enquanto o fato de tornar contemporaneamente acessíveis formas diferentes desse desenvolvimento histórico do mesmo rito significa introduzir uma ruptura inédita e uma descontinuidade estrutural na tradição eclesial.

Parece-me que a afirmação que, sobre este plano, se torna mais paradoxal e mais grave é a “absoluta liberdade” reconhecida ao padre individual, ou ao bispo, na sua celebração “sem povo”, de poder escolher a forma ordinária ou extraordinária, sem ter que prestar contas a ninguém: a Reforma Litúrgica se torna, assim, um mero “opcional” da própria identidade ministerial. Isso também é um monstruum inédito com relação à tradição da Igreja.

Era-me perguntado também sobre o “mistério” e a “Igreja”: parece-me ser inegável como uma forma ritual descreve e propõe, ao mesmo tempo, um modelo de objeto (o mistério de Cristo) e de sujeito (o mistério da Igreja). O mistério e a Igreja tomam forma no rito celebrado.

Agora, é evidente que o rito tridentino confia grande parte da mediação exclusivamente ao ministro ordenado, com um desvio perigosamente clerical da identidade, dos estilos retóricos, das formas do exercício da autoridade. É o padre que tem a ver com o mistério e com a Igreja. Por outro lado, é o padre que é competente pelo rito, e não a assembleia, que se limita a assistir e – entretanto – exercita sua própria devoção sobre outros textos e com outros ritos. Os ritos e as orações não são comuns.

O rito pós-conciliar, ao contrário, tenta mostrar melhor uma “presença de Cristo” mediada de muitos modos, articulando melhor carismas, ministérios, sujeitos, funções, tempos, espaços etc. E faz isso aspirando a que o rito se torne “linguagem comum de toda a Igreja”.

Por isso, como dizia no início, o rito que brotou da Reforma Litúrgica é “mais antigo” do que o tridentino, porque tenta se encaminhar para a superação do individualismo – tanto clerical quanto laical – que caracteriza tão fortemente aquela versão moderna do rito romano que é o rito tridentino.


IHU On-Line – A Universae Ecclesiae se manifesta como uma resposta aos fiéis que “expressaram o ardente desejo de conservar a antiga tradição”. No fundo, o que significa e que sentido tem a Tradição para a vida da Igreja, especialmente na questão litúrgica?
Andrea Grillo – Conservar a tradição antiga é o grande objetivo do cuidado pastoral para a liturgia, que o último século e meio teve dificuldade para manter viva e que agora é garantido pelo rito de Paulo VI . No período que preparou o Concílio, havíamos nos dado conta que o desenvolvimento pós-tridentino da tradição havia cada vez mais ofuscado o seu sentido e a sua raiz, enrijecendo-se em uma infinidade de normas e de formas insustentáveis.

A partir dessa dificuldade de quase dois séculos, surgiu o desejo de “adaptar” e de “atualizar” as práticas rituais, a fim de recuperar o seu valor como fonte para a identidade cristã. A tradição, de fato, para ter continuidade, deve saber mudar. Se, ao contrário, colocamos ao lado da tradição renovada uma tradição velha, permitimos que uma nostalgia de curto respiro ameace a própria tradição, interrompa suas principais vias de comunicação e de transformação. A tradição muda ao longo do tempo, mas torna-se tradicionalismo quando não aceita essa mudança estrutural e se fixa rigidamente, com pretensões de perenidade. Desse modo, morre a tradição: em nome de ataques pessoais e de sensibilidades nostálgicas.


IHU On-Line – O chamado missal de João XXIII, de 1962, remonta ao Papa Pio V , do século XVI. O que significa, nesse sentido, a retomada hoje de um missal da Contrarreforma?

Andrea Grillo – O missal de 1962 não é apenas a última versão do missal de Pio V, mas é também um ato profético com que João XXIII deu à Igreja um texto provisório – e sublinho “provisório”, porque assim o próprio Papa João o considera explicitamente –, à espera da reforma que seria feita à luz dos altiora principia que seriam expressados pelo Concílio Vaticano II, que, em 1962, já havia sido lançado.

Nos últimos anos, uma parte minoritária e extremista da Cúria Romana havia ousado chamar essa pequena e marginal edição do Missal tridentino de “a grande Reforma de João XXIII”: trata-se de uma mistificação sem verdade e sem pudor. O missal de 1962 é um texto de trânsito, de passagem, contingente e provisório, segundo o que o próprio Papa João disse dele, ainda em 1960, no Motu Proprio Rubricarum Instructum.

Portanto, é ainda mais objetivamente difícil “retomar” ou “ressuscitar” o missal de 1962, seja porque o papa posterior, Paulo VI, queria que ele fosse superado e substituído, seja porque João XXIII, o mesmo papa que o havia aprovado, considerava-o estruturalmente provisório. Considerar vigente o Missal de 1962 é uma ficção jurídica que não se sustenta nem diante de Paulo VI, nem diante de João XXIII. E é uma ficção jurídica ainda mais grave por ter sido conjecturada pela primeira vez por parte dos círculos tradicionalistas, no início da Reforma Litúrgica, para fazer resistência à própria Reforma.

Surpreende que o Papa Bento XVI tenha assumido uma teoria tão inconsistente no plano jurídico e com consequências tão incontroláveis no plano litúrgico, eclesial e espiritual.


IHU On-Line – A instrução diz que a celebração da missa tridentina deve ser feita por um “sacerdote idôneo”, que tenha um conhecimento do latim “que permita pronunciar as palavras de modo correto e de entender o seu significado”. Como fica a participação litúrgica dos fiéis com o uso de uma língua morta? Que significação a pessoa do sacerdote adquire?
Andrea Grillo – Ao lado das ficções jurídicas que recém ilustrei, o documento pressupõe muitos, muitos fatos inexistentes. O latim não é mais uma língua em uso, nem na Igreja. Uma coisa é traduzir algumas linhas do De bello gallico de César, outra é celebrar um rito. Essa não é só a condição dos padres que não estudam: essa é uma condição comum a todos os homens e as mulheres de hoje: nem os papas têm o latim como língua de uso. Eles não pensam em latim. Escrevem as encíclicas em italiano, em polonês, em alemão...

Pressupor que um DVD possa dar o uso sensato da língua ritual é um sonho de visionários e uma mistificação grave e ilusória. Isso vale até para os padres. Sem falar dos leigos. Com o latim, eles voltariam rapidamente a “assistir”, como diz explicitamente a recente instrução Universae Ecclesia.

Mas isso é precisamente aquilo que o Concílio, em 1963, deseja que não aconteça nunca mais na Igreja e busca superar justamente com a Reforma Litúrgica. O Concílio promove uma Reforma para que todos possam sentir o ritual como linguagem “própria”. Por isso, é muito difícil defender que o recente documento Universae Ecclesia não é contra a Reforma Litúrgica, visto que ele encoraja uma participação que inevitavelmente é a de “espectadores mudos”.

 


IHU On-Line – Na carta enviada aos bispos em 2007 acompanhando o motu proprio, Bento XVI diz: “Não existe qualquer contradição entre uma edição e outra do Missale Romanum. Na história da Liturgia, há crescimento e progresso, mas nenhuma ruptura. Aquilo que para as gerações anteriores era sagrado, permanece sagrado”. Nesse sentido, é possível conjugar o “sagrado” e a “liturgia” sem “nenhuma ruptura”?
Andrea Grillo – O papa tem razão se nos pede para permanecer bem plantados na dinâmica de uma história que se articula no espaço e no tempo: na sucessão histórica das duas formas, não há nenhuma contradição entre rito velho e rito novo. Mas, exatamente, só na sucessão temporal de duas formas diferentes!

Se, ao contrário, pretende-se que essas duas formas convivam na mesma unidade de espaço e tempo, sem subordinar uma à outra de modo claro e definido, perde-se imediatamente a orientação e, assim, também o sentido da tradição. A Reforma Litúrgica – devemos lembrá-lo a muitas mentes que se esqueceram disso – foi um ato necessário, uma passagem que a Igreja advertiu e julgou, em seu mais alto nível, conciliarmente, um evento decisivo da sua própria identidade, enquanto hoje a Universae Ecclesia e, antes ainda, a Summorum Pontificum a reduzem a um fato simplesmente possível, quase a um opcional.
Aqui está uma diferença delicadíssima, sutil como um fio de cabelo, mas decisiva. Se verdadeiramente se reconhece a necessidade histórica da Reforma, não pode justamente colocá-la novamente ao lado daquele rito que ela quis e teve que superar intencionalmente. Quando se faz isso, altera-se irremediavelmente todo o sentido e o impacto do ato de reforma.

Por outro lado, é preciso dizer que, se hoje nos preocupamos em evitar que a tradição sofra “rupturas”, é preciso evitar procurar outras piores: se a polêmica sobre a “hermenêutica do Concílio” é remetida à sua verdadeira intenção, é fácil ver como não se trata de contrapor continuidade e descontinuidade, mas sim de contrapor duas acepções diferentes de descontinuidade (ou seja, a Reforma e a descontinuidade tout court!). Toda Reforma introduz um certo grau de descontinuidade para poder garantir uma continuidade mais profunda e autêntica.

Seja-me permitido dar um exemplo, não litúrgico, mas disciplinar. Pensemos no que foi a Reforma tridentina do episcopado, marcada pela introdução da obrigação de “residência”. Certamente, é uma grande descontinuidade com relação às práxis dos séculos anteriores. Justamente essa descontinuidade, defendida e promovida por décadas e por séculos, produziu lentamente uma visão diferente do episcopado, menos administrativa e mais pastoral, menos imperial e mais paterna, menos prefeitícia e mais litúrgica.

O que aconteceria se, com um Motu Proprio, um papa da segunda metade do século XVI afirmasse que a “não residencialidade” jamais havia sido revogada e que, portanto, à sua escolha, os bispos poderiam residir ou não residir na sua diocese, de acordo com seus afetos, apegos ou pertenças?

É só um exemplo para mostrar a contradição de uma assunção contemporânea de perspectivas compatíveis entre si no devir da história, mas que são totalmente incompatíveis se assumidas contemporaneamente.

IHU On-Line – Na mesma linha, como interpretar essa afirmação do papa em nossa era (“pós-contemporânea”, “pós-metafísica”, “pós-revolução tecnológica”), enfim, em um novo período histórico? As respostas anteriores – sejam elas litúrgicas ou teológicas – ainda respondem ao momento atual?
Andrea Grillo – É preciso observar que aqui estamos diante de um efeito modernista do tradicionalismo e de um efeito tradicionalista do modernismo. Explico. A nostalgia com relação ao rito não mais vigente deve ser transformada em direito subjetivo à celebração segundo aquela ordem ritual, eclesial, espiritual. Por outro lado, a insistência no tema da liberdade e da acolhida gera uma Igreja sem mais pastoral.
Por isso, não é equivocado chamar de “monstruum” essa aparente solução, que revela, ao mesmo tempo, dois defeitos de esperança: há, nesses atos, como que um excesso de presunção junto a um excesso de desespero. A presunção consiste na pretensão de poder pular por cima não só da pastoral ordinária das dioceses e paróquias, mas também das soluções que, ao problema da “gestão das opções”, haviam sido dadas pelos papas do Concílio e do pós-Concílio.

Mas há também desespero, porque não se tem mais confiança no fato de que a Reforma Litúrgica, apesar de todas as suas dificuldades, possa ser a escolha irrevogável da tradição católico-romana. Presunção e desespero minam a esperança, que a Reforma havia reaberto e continua sustentando, e da qual ainda precisa, contanto que não seja minada na base da “legítima” coexistência da sua negação.
O papa pode apoiar a Reforma Litúrgica, ou pode contradizê-la. Ele não pode fazer uma coisa e outra ao mesmo tempo, porque isso desorientaria progressivamente o corpo eclesial.


IHU On-Line – O cardeal Kurt Koch disse recentemente que essas medidas são os passos de uma “reforma da reforma” do Vaticano II, que ainda vai continuar, em busca de um rito que equilibre os extremos. Como a liturgia do Vaticano II poderia ser relida no contexto atual?
Andrea Grillo – Certamente sem querer, o cardeal Koch afirmou aquilo que o papa – pelo menos enquanto papa – tem repetidamente negado. O fato de que a Summorum Pontificum e a Universae Ecclesia querem introduzir uma reforma da Reforma não pode ser deduzido a partir do texto dos documentos. Neles, de fato, pretende-se reafirmar todo o valor da Reforma Litúrgica. Por outro lado, não só alguns observadores, mas também a quase totalidade dos bispos e do povo de Deus, se não vivem fechados em um museu diocesano, já haviam advertido a estranha contradição entre as palavras e os fatos.

Com o discurso do cardeal Koch, parece ter se desvendado o mistério: se é a intenção do papa fazer uma reforma da Reforma, então têm razão todos aqueles que veem uma grave ameaça para a Reforma Litúrgica nesses dois atos do magistério. A fábula de final feliz resulta ser, então, pouco confiável, como quando o próprio Koch diz que “justamente os teólogos que haviam se comprometido com o movimento litúrgico, ou que haviam participado dos trabalhos do Concílio logo se tornaram sérios críticos dos desdobramentos litúrgicos pós-conciliares”. Não acho, de fato, que seja assim.

Não conheço nenhum teólogo que antes fosse favorável e que depois tenha se tornado contrário. Entre aqueles que hoje escrevem contra a Reforma não há um único teólogo que dela tenha participado. Escreve contra, normalmente, quem a conhece pouco. Essas opiniões em liberdade – se provêm da parte de quem deveria pesar o que diz a partir de sua própria responsabilidade – projetam sobre a realidade os desejos de quem as pronuncia, enquanto os fatos acorrem pontualmente para lhes desmentir.

IHU On-Line – A instrução do Vaticano, por meio da retomada do usus antiquior da liturgia, visa a “favorecer a reconciliação ao interno da Igreja”. Esse fim justifica o meio escolhido?
Andrea Grillo – Repito que não é legítimo falar de usus antiquior. Chamaria de uso mais velho, ou, melhor ainda, “uso fora de uso”, que, se introduzido em um contexto pastoral harmônico e de crescimento eclesial, só traz desequilíbrios, conflitos, ilusões e frustrações. É a negação de 50 anos de escolhas árduas, corajosas e cheias de benefícios para a vida das comunidades. A intenção e o efeito não podem coincidir. Ou melhor, se contradizem, visto que a conformidade do meio ao fim é justamente a questão central que causa perplexidade nesses procedimentos.

A meu ver, a lógica do indulto é a única capaz de salvaguardar as escolhas pastorais e as competências episcopais. Enquanto a “liberalização”, na forma que assumiu agora com a Universae Ecclesia, desorienta e impede qualquer pastoral unitária e harmônica. Estão bem conscientes disso todos os bispos que têm uma real experiência pastoral. Os poucos que podem compartilhar essa escolha são aqueles que não têm um povo ao qual responder.

Se estamos sempre fechados no escritório, ou talvez até se aspiramos entrar em algum escritório, é muito fácil pensar e dizer enfaticamente que esse documento só traz paz e reconciliação. Se só colocamos um pé fora de casa e se aceitamos olhar na cara a realidade, entendemos que obtemos só o efeito contrário. Acho que isso demonstra um certo provincianismo típico daquela mentalidade curial, que abre muito pouco as janelas para deixar entrar um pouco de ar fresco. E que reduz o mundo à ideia que dele se fez.

IHU On-Line – Alguns comentaristas apontam que, por trás da instrução, colocam-se em questão as diferenças litúrgicas entre o “altar do sacrifício” e a “mesa da ceia”. É possível resolver essa tensão?
Andrea Grillo – A tensão já foi resolvida pela Reforma Litúrgica. A mesa é altar. Isso comporta, porém, um efeito muito importante em termos de espaço litúrgico. A Reforma, como se sabe, envolve uma adequação das igrejas. Com esses novos documentos, que introduzem um paralelismo entre formas rituais não coerentes, se criará imediatamente uma espécie de impedimento à adequação por parte do uso velho.
No novo rito, mesa e altar podem conviver; no velho, não. Por isso, a aparente tolerância da Summorum Pontificum e da Universae Ecclesia introduzem um fator de intolerância que pode dilacerar todas as comunidades eclesiais, o que se consegue impedir com o simples obséquio formal ao novo rito. Por outro lado, como já disse, são os próprios documentos que prosseguem com a mesma lógica: formal obséquio à Reforma e subtração progressiva das razões da sua necessidade prosseguem neles lado a lado.


IHU On-Line – A instrução garante aos fiéis interessados a “faculdade” de retomar a missa tridentina, faculdade essa que deve ser concedida “generosamente” pelos bispos. Em que outros aspectos a “generosidade” papal e episcopal deveria se manifestar mais, em sua opinião?
Andrea Grillo – Por si só, a generosidade é sempre uma coisa boa. Mas a generosidade desses documentos sofre de uma limitação estrutural pelo fato de que os destinatários parecem muito próximos – para não dizer idênticos – aos sujeitos que promovem os próprios atos. É verdade que a generosidade para consigo mesmos não é só um limite, mas, quando é tão insistente, tão reiterada, proposta com argumentos tão frágeis e tão pessoais e sentimentais, também deixa a impressão de que o que está em jogo, sobretudo, é uma relação consigo mesmos, não com os outros. A generosidade para com expressões muito diferentes das afeições e das fixações rituais de um certo estilo de vida curial e clerical certamente teria uma força profética muito superior. Mas isso, talvez, seja pedir demais.


IHU On-Line – Em sua opinião, quais foram o sentido e o significado da Reforma Litúrgica do Concílio Vaticano II, analisada a partir dos esforços de Paulo VI na sua aplicação e os movimentos recentes de Bento XVI?
Andrea Grillo – A resposta a essa questão deve ser necessariamente bastante ampla e deve restabelecer, em primeiro lugar, uma correta memória do que aconteceu nos últimos dois séculos, substituindo os fatos à mitologia ilusória que os substituiu. Sobretudo, deve-se recordar que a condição da liturgia antes do Concílio Vaticano II versava em uma grave crise. Tal crise já havia sido reconhecida nas primeiras décadas do século XIX por homens como Antonio Rosmini , na Itália, ou Prosper Guéranger , na França. Cerca de um século depois, nos primeiros anos do século XX, nasceu o Movimento Litúrgico oficial com Pio X , Beauduin, Festugière, Guardini , Casel ... É verdade que todos esses escritores trabalhavam e pensavam no ambiente do rito tridentino. Porém, preparavam um profundo repensamento, que, com Pio XII, chegou a uma primeira reviravolta e começou a projetar a Reforma Litúrgica, a qual começou com o fim dos anos 1940 e não com o Concílio.

Antes, revisou-se a Vigília Pascal, depois a Semana Santa e, depois, pouco a pouco, todos os ritos cristãos. Esse período, que durou cerca de 40 anos – de 1948 a 1988 – realizou uma grande reforma do rito romano, que, na nova forma, substitui a velha forma, por causa das carências desta. A Reforma, no entanto, não era o fim, mas sim o instrumento para gerar, no corpo eclesial, uma forma diferente de participação, corpórea e simbólica, comunitária e dialógica. Os ritos são a linguagem comum a toda a Igreja. Voltar ao uso do rito prevalece agora sobre o temor do abuso.

Nesse espaço, tornado possível pelo novo modo de se referir ao rito – não só mais ritus servandus, mas ritus celebrandus, não mais só individual, mas comunitário, não mais preocupado com o mínimo necessário, mas sim com o máximo gratuito –, nesse mare magno, porém, começa-se a perder a memória desse caminho de muitas gerações. Encontramo-nos novamente no deserto da lenta transformação e diante das novas dificuldades que exigem que se assuma a participação de todos na única ação como lógica do culto eclesial. Em ambientes totalmente minoritários, com alguns laços com o tradicionalismo cismático lefebvriano, a ideia de que a crise foi causada pela Reforma abriu caminho. E de que, voltando para antes dela, haveria alguma esperança a mais. Toma-se por esperança uma mistura verdadeiramente tóxica de presunção e de desespero.


Há autores, como Messori ou Bux, ou outros jornalistas, que nos últimos anos têm repetido esse paralogismo até o cansaço, pensando que a crise litúrgica começa com o Concílio: e isso só é possível dizer ignorando totalmente do que se fala. O engano é surpreendente e pode-se confirmar só se for cuidadosamente evitado qualquer contato com a realidade. Mas, justamente, quanto mais nos confirmamos nessa distância de qualquer pastoral concreta, mais nos tornamos incompreensíveis e diria quase escandalosos para toda forma de sério compromisso pastoral. Hoje, estamos nesse cume delicado, que, com muita paciência e grande decisão, deve ser enfrentado e superado. Mas podemos enfrentá-lo só naquele Espírito que, graças ao Concílio Vaticano II, “vimos claramente passar entre nós (e quem agora o nega, e há quem o faça, infelizmente sabe bem o que faz: a sua verborragia o trai)”, como escreveu Pierangelo Sequeri pungentemente.


IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?
Andrea Grillo – Gostaria de salientar apenas um último ponto, que me parece, no entanto, decisivo para a superação do cume do qual falava há pouco, e é a função dos pastores e dos teólogos em todo este assunto. De um lado, pode-se entender a grande cautela com a qual se toma a palavra sobre esses temas litúrgicos, dadas as sensibilidades que se manifestam dentro das “cúpulas”. Gostaria, porém, de lembrar a todos que é uma forma de imprudência não só uma palavra mal proferida, mas também um silêncio não justificado.

Hoje, eu acredito que a melhor maneira de prudência eclesial consiste em falar sinceramente, em manifestar os problemas abertos e os riscos pouco considerados, com respeito crítico e com crítica respeitosa. Mas quase todos calam. O papa não deve ser deixado sozinho com os seus colaboradores mais diretos, que muitas vezes demonstram uma grande desorientação em questões de liturgia. É preciso que os irmãos no episcopado e os teólogos com alguma competência falem entre si, com o povo de Deus e com o papa, para ajudá-lo a considerar a questão da liturgia de modo mais integral e menos abstrato. Caso contrário, a comunhão eclesial sofrerá muito, alimentar-se-á ainda mais de inúteis murmurações e se esquecerá da graça da parresia. Estar em comunhão significa poder ser sincero. Na sinceridade e no confronto, tudo é pelo melhor. Só assim a Ecclesia se mostra verdadeiramente Universa, e os pontífices parecem verdadeiramente Summi.

Fonte: http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3900&secao=363

domingo, 20 de maio de 2012

A reforma 'eucarística' do Concílio Vaticano II


A REFORMA ‘EUCARÍSTICA’ DO CONCÍLIO VATICANO II

VISTA DENTRO DO CONTEXTO HISTÓRICO GERAL

DA LITURGIA


Frei José Ariovaldo da Silva, OFM*

            Já celebramos os 40 anos da Constituição “Sacrosanctum Concilium” sobre a Sagrada Liturgia (SC), do Concílio Vaticano II, publicada no dia 03.12.1963. Por ocasião do 40o aniversário deste importante documento conciliar, a Dimensão Litúrgica da CNBB promoveu inúmeros encontros de estudos pelo Brasil afora em torno da Liturgia renovada pelo concílio. O mais importante deles foi o Seminário Nacional sobre a Constituição sobre a Sagrada Liturgia, acontecido nos dias 10 a 13 de março de 2003, em São Paulo. Tais encontros ajudaram muita gente a tomar consciência sobre o sentido e a importância da reforma litúrgica do Vaticano II. E também ajudaram muita gente a se aprofundar ainda mais sobre o alcance teológico-pastoral da reforma, bem como serviram de incentivo para levar adiante o sonho litúrgico concílio...


            Estamos diante de uma Constituição sobre a Liturgia. Todos sabem o que significa isso: uma Constituição! Temos a nossa Constituição Federal, isto é, a Carta Magna que espelha o rosto da Nação e rege a vida em comum do povo brasileiro. As Ordens e Congregações Religiosas têm suas Constituições Gerais, isto é, a Carga Magna que espelha o carisma próprio de cada uma e rege a vida em comum de seus membros. E a Constituição sobre a Liturgia? É a Carta Magna que, com seus princípios teológicos e pastorais, espelha, ilumina e orienta a vida litúrgica da Igreja que, em milhares de comunidades pelo mundo afora, se reúne para celebrar e viver a Páscoa de Cristo e, em Cristo, a nossa páscoa.

            O segundo capítulo da “Sacrosanctum Concilium” trata especificamente da Eucaristia (cf. SC 47-58), sobre a qual estamos estudando. Mas atenção: não podemos abordar a Eucaristia apenas se atendo a este capítulo! Pois o primeiro capítulo (que apresenta os princípios gerais: Natureza e importância da liturgia na vida da Igreja, formação e participação litúrgicas, a reforma litúrgica, a vida litúrgica nas dioceses e paróquias, a pastoral litúrgica), no fundo também fala dela enquanto celebração pascal. Este primeiro capítulo é fundamental para uma correta compreensão da Eucaristia renovada pelo Vaticano II.

            Mas antes, há que se tratar da reforma ‘eucarística’ do Concílio Vaticano II vista dentro do contexto histórico geral da Liturgia. E é o que vamos fazer aqui. Trata-se de uma primeira abordagem, a meu ver, de suma importância, pois nos possibilita intuir e perceber com maior nitidez três coisas. Primeiro: O por quê da reforma do Vaticano II. Segundo: O por quê das dificuldades na implantação da reforma em nosso meio, não obstante os 40 anos já passados. Terceiro: Motiva-nos a levar mais a sério a orientação teológico-pastoral do concílio no que diz respeito, no nosso caso, à reforma ‘eucarística’.

            Para tanto, veremos primeiro, sinteticamente, algumas características da eucaristia (sua celebração e compreensão) no primeiro milênio da era cristã. Em seguida, em paralelo a estas, destacaremos as “mudanças” acontecidas no segundo milênio, o que vai naturalmente nos acordar para o alcance teológico-pastoral da reforma ‘eucarística’ do Vaticano II[1].


1. A Eucaristia, sua celebração e compreensão no primeiro milênio:

algumas características

1.1.    Como primeira característica destacamos a centralidade do mistério pascal. A saber, a eucaristia era entendida como celebração do mistério pascal, memorial da morte e ressurreição do Senhor Jesus. Assim, o altar era o ponto central, a referência de toda a celebração. Tanto que, para realçar a sua centralidade, em muitas igrejas se colocava sobre ele até mesmo uma espécie de cobertura, uma cúpula (sustentada por quatro colunas), chamada de baldaquino.

1.2.    A presença real de Cristo era vivenciada (sentida) na globalidade da celebração (na assembléia reunida, na Palavra proclamada, na presidência da celebração e, sobretudo, nas espécies de pão e vinho).

1.3.    A Eucaristia como celebração memorial da Páscoa é que constituía a principal fonte de espiritualidade cristã. O “lugar” onde os cristãos encontravam força para levar adiante a missão de Jesus era precisamente a celebração da Eucaristia como memorial pascal.

1.4.    Outra característica: a centralidade da Palavra proclamada. Esta, como presença viva do Senhor falando para o seu povo, era levada a sério, com leitores qualificados, ambão, lecionário, homilia.

1.5.    Prevalecia a consciência de que a Liturgia da Palavra (como momento do diálogo da Aliança) e a Liturgia eucarística (como momento do selo da Aliança) constituíam um só ato de culto

1.6.    O mistério pascal celebrado é que constituída a principal fonte de inspiração teológica. A saber, a teologia eucarística era então elaborada principalmente a partir da experiência do mistério de Deus na divina Liturgia (escuta da Palavra e participação no Sacramento). Estudava-se a Eucaristia no culto e a partir do culto. Como ensinava Santo Ambrósio: “Vocês querem conhecer a Eucaristia? Vejam o que dizem as orações eucarísticas da tradição das igrejas”[2].

1.7.    A própria iniciação à vida eucarística obedecia uma metodologia própria: a mistagogia. A pessoa era iniciada à compreensão e celebração eucarística a partir do rito, isto é, a partir da ação eucarística. O mistagogo ensinava a Eucaristia com um olhar nos seus ouvintes e o outro olhar no altar.

1.8.    Característico também do primeiro milênio é o caráter comunitário e ministerial da celebração eucarística. A saber, o sujeito da ação eucarística era entendido como sendo a comunidade eclesial reunida em assembléia, povo sacerdotal, corpo de Cristo. E isto significa que a celebração era participada por todos, havendo nela inclusive uma variedade de ministérios litúrgicos.

1.9.    E mais, por ser a celebração eucarística uma ação comunitária e ministerial, ela era entendida precisamente como um “comer e beber juntos em ação de graças”, obedecendo ao mandato de Cristo: “Tomai e comei... tomai e bebei”.

1.10.        Outra característica: a celebração do mistério pascal acontecia de forma adaptada às diferentes culturas com sua linguagem verbal e gestual própria, surgindo daí toda uma rica diversidade de famílias litúrgicas tanto no oriente como no ocidente. Dentre os mais diferentes ritos elaborados, destaca-se do rito romano, próprio da diocese de Roma, ao qual nós pertencemos e com o qual nós celebramos a Eucaristia.

1.11.        A liturgia eucarística romana, no primeiro milênio, tinha a característica de ser simples, prática, literariamente elegante, com as orações dirigidas geralmente ao Pai (por Cristo, no Espírito Santo).  E não havia manifestações de adoração do Santíssimo na missa. Na verdade, o que se buscava era garantir o essencial, a saber, a Páscoa. Tratava-se de celebrar o mistério pascal, e evitava-se tudo o que pudesse distrair ou “roubar a cena” deste centro absoluto de nossa fé. Nada de muitas palavras nem muitos enfeites para não distrair a assembléia do mistério que se celebra.

1.12.        Enfim, havia uma preocupação com a qualidade (teológica, ritual, espiritual: pascal) da celebração eucarística, procurando fazer ao mesmo tempo a ligação liturgia e vida.


 
2.      A eucaristia, sua celebração e compreensão no segundo milênio: Deslocamentos de eixo


Como o título já sugere, no segundo milênio constatamos uma série de deslocamentos de eixo na celebração e compreensão da Eucaristia. Vejamos:

2.1. Da centralidade do mistério pascal, do primeiro milênio, passou-se no segundo milênio para a centralidade do Santíssimo Sacramento (como “presença real”) e dos Santos. Mais importante que a eucaristia como celebração memorial da morte e ressurreição do Senhor Jesus, é então a hóstia consagrada e os Santos. Centro não é mais a mesa do Senhor em torno da qual a assembléia se reúne para a celebração pascal, mas o sacrário (por isso, é ele que agora, em muitas igrejas, vem coberto com um baldaquino!) e a imagem do(a) padroeiro(a) no topo do altar-mor. A festa mais importante e imponente do ano não é mais a Páscoa, mas Corpus Christi e a festa do(a) padroeiro(a).

2.2. Vimos que no primeiro milênio a presença real de Cristo era vivenciada (sentida) na globalidade da celebração (na assembléia, na Palavra, na presidência, nas espécies de pão e vinho). No segundo milênio esta presença é vista quase que exclusivamente no pão e no vinho consagrados, mas sobretudo na hóstia consagrada. Esquecem-se as outras presenças!

2.3. Se no primeiro milênio a Eucaristia como celebração memorial da Páscoa é que constituía a principal fonte de espiritualidade cristã, agora (no segundo milênio) a fonte de espiritualidade é a devoção ao Santíssimo Sacramento e aos Santos.

2.4. Se no primeiro milênio a Palavra era levada a sério, no segundo milênio o povo praticamente perdeu o contato com a Palavra. Pois o padre lia as leituras em voz baixa, só para ele, de costas, em latim, lá no altar distante colado à parede. Desaparece a prática de leitores proclamando a Palavra. O lecionário é engolido pelo missal. A homilia (explicação da Palavra ouvida) virou sermão (discurso sobre um tema que pode não ter nada a ver com a Palavra ouvida). O ambão virou púlpito de oratória sacra. E o povo substitui a Palavra pela leitura da vida (muitas vezes lendária) dos Santos.

2.5. Se no primeiro milênio prevalecia a consciência de que a Liturgia da Palavra e a Liturgia eucarística constituíam um só ato de culto, no segundo milênio acontece uma separação entre estes dois momentos celebrativos da mesma Páscoa. Tanto é que o primeiro momento era chamado de “Ante-missa”. Importante era estar presente na hora da Liturgia eucarística. E se cria que bastava fiel chegar na hora do ofertório (como diziam) para dar pleno cumprimento ao preceito dominical.

2.6. Se no primeiro milênio o mistério celebrado é que constituía a principal fonte de inspiração teológica e a teologia eucarística era elaborada principalmente a partir da experiência do mistério de Deus na divina Liturgia, no segundo milênio a teologia eucarística vira especulação racional (por influência da Escolástica) sobre a Eucaristia (existência, essência, efeitos, ministro, sujeito da Eucaristia). Tem-se uma visão por demais “material” da Eucaristia. Esta vira um objeto de estudo, como se fosse uma “coisa” a ser pesquisada, pois se perde sua dimensão celebrativa pascal como fonte de compreensão[3].


2.7. A própria metodologia de iniciação à vida eucarística e ao conhecimento da Eucaristia mudou. Se antes se aprendia o que é Eucaristia “na igreja” (isto é, a partir do rito, a partir da ação eucarística), agora, no segundo milênio, ensina-se Eucaristia na escola, em salas de aula, a partir de conceitos elaborados pela teologia escolástica. Catequese eucarística virou “decoreba” de conceitos sobre Eucaristia, com tendência a moralismos...

2.8. Lembrávamos também o caráter comunitário e ministerial da celebração eucarística no primeiro milênio. Agora, no segundo milênio, o que predomina é o individualismo religioso. Enquanto o padre faz a “sua” reza lá no altar, o povo (do lado de cá) se entretém com suas devoções (terço, novenas etc.). Multiplicam-se as missas votivas (como cumprimento de promessa). Multiplicam-se as missas privadas (o padre rezando sozinho a missa), pois aumenta consideravelmente a demanda por missas pelos defuntos. E para poder atender à imensa demanda por missas votivas e pelos defuntos, multiplicam-se os padres “altaristas” (ordenados só para rezar missa!), bem como os altares laterais nas igrejas. Hoje, como se vê pelo noticiário da nossa imprensa, missa também é entendida como uma “cerimônia” que se “encomenda”, ou se “promove”, para “homenagear” alguém (vivo ou falecido), ou para celebrar a “memória” de alguma pessoa ou evento importante e, inclusive, para “festejar” e “comemorar” algum aniversário significativo ou abrilhantar algum acontecimento social; uma cerimônia feita por um profissional religioso contratado (bispo ou padre), à qual a gente “assiste”...[4].

2.9. Se no primeiro milênio a ação eucarística era entendida como um “comer e beber juntos em ação de graças”, agora, no segundo milênio, predomina a prática de cada um fazer a “sua” comunhão devocional, de vez em quando. A comunhão deixa de ser entendida pelo povo como parte integrante de sua participação na ação memorial da Páscoa, para ser entendida mais como devoção pessoal (feita inclusive fora da missa). Aliás, comungar normalmente na missa chegou a ser mesmo coisa muito rara. E daí, que se fez? Substitui-se a comunhão pela adoração da hóstia. Ver e adorar a hóstia na hora da consagração passou a ser para o povo o ponto alto da missa. Por isso (já que o padre celebra de costas), os padres introduzem (na hora da consagração) o gesto de levantar bem alto a hóstia, acima de sua cabeça, para o povo poder vê-la e adorá-la. No primeiro milênio não existia nada disso!... Posteriormente, fazem o mesmo também com o cálice. E mais, adotam o costume de tocar campainhas naquela hora,  exatamente para motivar e incentivar a adoração[5].

            2.10. Vimos que no primeiro milênio a celebração eucarística acontecia de forma adaptada às várias culturas com sua linguagem verbal e gestual. Agora, no segundo milênio, impõe-se no ocidente o centralismo romano, a uniformidade romana. Implanta-se uma linguagem verbal (o latim) e gestual rigidamente igual para todas as igrejas do ocidente (com exceção da arquidiocese de Milão), para celebrar a Eucaristia. Por exemplo, nossos índios e negros no Brasil tiveram que “aprender” a assistir a missa rezada em latim! Celebrar a eucaristia (mistério pascal) na língua deles (tupi, guarani, africana etc.), nem pensar! Era a mentalidade da época!...


           2.11. Vimos que a liturgia eucarística romana, no primeiro milênio, tinha a característica de ser simples, prática, literariamente elegante, com as orações dirigidas geralmente ao Pai (por Cristo, no Espírito Santo).  E não havia manifestações de adoração ao Santíssimo na missa. Na verdade, o que se buscava era garantir o essencial, a saber, a Páscoa. No segundo milênio nós vemos celebração eucarística transformada num cerimonial complicadíssimo, com inúmeros gestos e movimentações dos ministros de um lado para outro, com inúmeras orações em latim ditas em voz baixa. A complicação atinge seu auge com a pompa barroca. A missa solene se transforma num espetáculo para a visão, com aquele imenso retábulo cheio de flores, castiçais, luzes, imagens de anjos e santos, que se levanta sobre a mesa do altar, e com a imagem do(a) padroeiro(a) lá em cima no topo. Sem falar do monumental e luxuoso sacrário em destaque no centro do retábulo, sobre o altar, bem como dos suntuosos paramentos bordados em ouro adornando os ministros sagrados envoltos em nuvens de fumaça de incenso. Os sinos tocam na hora da consagração, chamando todos à adoração da hóstia que se levanta solene. Terminada a consagração, toca também a banda de música, inclusive o hino nacional. Numa palavra, a missa se transforma num espetáculo para a visão. Enquanto isso (enquanto se assiste ao show), o povo também se entretém ouvindo os grandes concertos musicais do coral cantando as célebres “Missas” com acompanhamento de órgão e orquestra. Portanto, a missa vira um espetáculo para os olhos e para os ouvidos, em que os elementos exteriores do culto acabaram por “roubar a cena” (quase que por completo) daquilo que é o cerne da celebração eucarística, a saber, a Páscoa (paixão, morte e ressurreição do Senhor). E as missas não solenes continuam sendo encaradas como uma “reza” do padre que a gente encomenda....

            2.12. Enfim, chamávamos a atenção para a preocupação pela qualidade da celebração eucarística no primeiro milênio (qualidade teológica, ritual, espiritual, pascal), procurando fazer ao mesmo tempo a ligação liturgia e vida. No segundo milênio, preocupa-se mais com um discurso teológico intelectual racional do que com uma teologia e espiritualidade pascais que brotam da própria experiência celebrativa. Sem falar na preocupação por demais centrada no aparato externo e rubrical das cerimônias a serem executadas pelos padres.  Como vemos no missal de Pio V (1570): Tanto na sua Introdução como nas suas rubricas internas, toda a orientação gira em torno do que o padre rigorosamente deve fazer e como deve executar. Esquece-se, portanto, que existe um povo!... Na há uma preocupação com a participação deste povo na ação memorial pascal. A qualidade teológica e comunitária cede lugar para um exagerado legalismo e rubricismo litúrgicos.

            2.13. Dá a impressão que o segundo milênio, do ponto de vista da compreensão e celebração da Eucaristia, foi totalmente negativo. Foi e não foi! Foi, porque a liturgia eucarística como celebração pascal, uma vez colocada longe do alcance do povo, foi parar em segundo plano, fora de eixo. Uma enorme perda! E não foi negativo, porque o povo, longe da liturgia, soube sabiamente criar uma enorme força alternativa de resistência frente às intempéries da vida. Como? Apoiando-se nas práticas devocionais ao Santíssimo Sacramento e aos Santos. Se tivesse sido diferente, como foi no primeiro milênio, com certeza teria sido bem melhor, é claro!...



3.      Vaticano II: resgate do essencial “perdido”

 No final do século XIX, mas principalmente dos inícios do século XX para cá, a partir dos avanços nas pesquisas das fontes bíblicas, patrísticas, litúrgicas, e até mesmo arqueológicas, do primeiro milênio, começou-se a perceber o quanto havíamos nos distanciado das tradições cristãs mais antigas e das raízes cristãs mais genuínas no que diz respeito à Eucaristia.
Desenvolve-se então na Igreja um grande movimento de resgate do verdadeiro sentido da Liturgia para as comunidades cristãs. Trata-se do chamado “movimento litúrgico” que, sem dúvida, preparou muito bem o terreno para o advento do concílio Vaticano II.

E, então, que faz o Concílio? Com a Constituição sobre a Sagrada Liturgia, ele resgata uma série de elementos “eucarísticos” essenciais que praticamente havíamos perdido de vista em todo o segundo milênio. E aí que está o imenso e inquestionável valor do Concílio!

3.1. Resgata-se a centralidade do mistério pascal: A eucaristia é celebração do mistério pascal, memorial da morte e ressurreição do Senhor Jesus. Resgata-se o verdadeiro sentido pascal do “mistério da fé”: “Anunciamos, Senhor a vossa morte, proclamamos a vossa ressurreição...”. Resgata-se a centralidade do altar da celebração no espaço da celebração.

3.2. Resgata-se consciência da presença real do Senhor na globalidade da celebração: na assembléia, na Palavra, na pessoa do sacerdote que preside, e sob as espécies de pão e de vinho (cf. SC 7)

            3.3. Resgata-se a principal fonte de espiritualidade cristã, a saber, a Eucaristia como celebração memorial da Páscoa (cf. SC 14).



            3.4. Resgata-se a centralidade da Palavra, provocando-nos assim a levá-la a sério, com leitores qualificados, ambão em destaque, uso do lecionário e/ou evangeliário, prática obrigatória da homilia nos domingos e dias de festa (cf. SC 24-25).

            3.5. Resgata-se a consciência da Liturgia da Palavra e da Liturgia eucarística como um só ato de culto, como dois momentos de vivência da mesma Aliança.

            3.6. Resgata-se o mistério celebrado como principal fonte de inspiração teológica. Uma teologia eucarística terá que ser elaborada sobretudo a partir da experiência de Deus na divina Liturgia (escuta da Palavra e participação no Sacramento).

            3.7. Resgata-se a mistagogia como metodologia mais apropriada na iniciação à vida eucarística. Iniciar à vida eucarística a partir do rito, da ação eucarística. Um grande desafio que ainda temos pela frente, na catequese!

            3.8. Resgata-se o caráter comunitário, ministerial e participativo da celebração eucarística. Resgata-se o sujeito da ação eucarística como sendo a comunidade eclesial, povo sacerdotal, corpo de Cristo (cf. SC 26 e 48). Reconhecem-se os diferentes ministérios leigos na liturgia (acólitos, leitores, músicos, instrumentistas, sacristão, comentarista, acolhida etc.) como verdadeiros “ministérios litúrgicos”. E é impressionante como “Sacrosanctum Concilium” realça a participação plena, consciente, ativa e frutuosa na celebração da divina Liturgia como um direito e um dever de todos (cf. SC 14 e, sobretudo, SC 48).


            3.9. Resgata-se o sentido da ação eucarística como “comer e beber juntos em ação de graças”.

            3.10.Resgata-se a necessidade de a celebração da Eucaristia se adaptar às diferentes culturas e índoles dos povos, com sua linguagem verbal, gestual e musical próprias (cf. SC 37-40).

            3.11. Resgata-se a “nobre simplicidade” da liturgia eucarística de nossa tradição romana do primeiro milênio (cf. SC 34). Isto é, trata-se de garantir o essencial: a Palavra e o mistério pascal. Há uma tendência hoje (precisamente por causa de uma mentalidade viciada que herdamos de todo um milênio passado) de querer complicar tudo de novo, de inflacionar nossas missas novamente com um monte de “adornos” e “entulhos” que só vem comprometer a visão daquilo que é essencial na celebração da Eucaristia. Um exemplo só: Certas missas hoje são tão barulhentas, do começo ao fim, com tanto canto, com instrumentos musicais estridentes abafando as vozes do povo, com tanta fala e palavrório, tanto ruído, tantos shows, que não se abre praticamente espaço para o principal Participante “falar”, não se abre espaço para o Senhor se manifestar..., precisamente na suavidade, na calma e no silêncio.


            3.12. Enfim, resgata-se a preocupação com a qualidade teológica, ritual, espiritual, pascal da celebração eucarística. Daí a insistência na formação litúrgica em todos os níveis (cf. SC 14-20). E quando dizemos “formação litúrgica”, entende-se como um processo permanente de aprendizado e aprofundamento sobre o sentido teológico-espiritual da ação celebrativa eucarística, do qual deve brotar naturalmente um comportamento solidário dentro da sociedade, segundo a justiça do Evangelho[6]. Graças a Deus, hoje está havendo um despertar para a necessidade de tal formação em muitas de nossas comunidades.


4.      Concluindo

Creio que (depois de refletir sobre a reforma ‘eucarística’ do Concílio Vaticano II vista dentro do contexto histórico geral da Liturgia) ficou claro o por quê desta reforma. E já dá para ir percebendo também as dificuldades atuais na implantação da reforma. Afinal, herdamos uma prática e compreensão de Eucaristia com sérios deslocamentos de eixo, que vem de todo o milênio passado, e que, portanto, está enraizada no nosso inconsciente. E, então, fica em aberto, a saudável preocupação: E agora, daqui para frente?!... O que fazer? O caminho está aberto, com certeza cheio de necessárias tensões.

Enfim, no sentido atiçar ainda mais a preocupação e o desejo evangelizar dentro do espírito do Concílio Vaticano II, convém também perguntar: Em que pé estamos? O que já assimilamos nestes 40 anos da teologia e da prática do concílio e o que não? Quais são os resquícios daquela teologia eucarística deslocada de eixo (do segundo milênio) que existem por aí? Que providências vamos tomar para adiantar o passo? Afinal, o que nós agora vamos fazer?


Bibliografia

Para eventual aprofundamento
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VV.AA. A Eucaristia. Teologia e história da celebração (= Anámnesis 3). São Paulo, Paulinas, 1987.



* Frei José Ariovaldo da Silva é frade franciscano, doutor em Liturgia pelo Pontifício Instituto Litúrgico “Santo Anselmo” de Roma. Atualmente é professor de Liturgia no Instituto Teológico Franciscano, em Petrópolis (RJ). Também assessora cursos de Liturgia (Atualização, Especialização) na Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo. É membro da Associação dos Liturgistas do Brasil (ASLI), da qual foi primeiro presidente. Faz parte da equipe de reflexão da Dimensão Litúrgica da CNBB. Faz conferências e presta assessoria em cursos, seminários e semanas de Liturgia em paróquias e dioceses pelo Brasil afora. Publicou O movimento litúrgico no Brasil. Estudo histórico (Petrópolis, Vozes, 1983) (= sua tese doutoral), e O domingo, páscoa semanal dos cristãos. Juntamente com Ione Buyst publicou O mistério celebrado: memória e compromisso (= Coleção Livros Básicos de Teologia 9) (Valencia/Espanha – São Paulo, Siquem – Paulinas, 2003). Juntamente com Pe. Marcelino Sivinski organizou a publicação Liturgia, um direito do povo (Petrópolis, Vozes, 2000).  Tem colaborado em várias obras coletivas, bem como para as revistas Grande Sinal (Petrópolis), REB (Petrópolis), Revista de Liturgia (São Paulo). Atualmente escreve mensalmente um artigo relacionado à Liturgia para a revista Mundo e Missão (São Paulo).
[1] Para maiores detalhes históricos, cf. BUYST Ione & DA SILVA José Ariovaldo. O mistério celebrado: memória e compromisso
(= Coleção Livros Básicos de Teologia 9) (Valencia/Espanha – São Paulo, Siquem – Paulinas, 2003).
[2] Cf. GIRAUDO Cesare. Num só corpo. Tratado mistagógico sobre a eucaristia. São Paulo, Loyola, 2003, p. 7-13; id., Redescobrindo a eucaristia. São Paulo, Loyola, 2002, p. 9-11.
[3] Cf. GIRAUDO Cesare. Num só corpo..., op. cit., p. 1-7.; id., Redescobrindo a eucaristia, op. cit., p. 8-9.
[4] Cf. SILVA José Ariovaldo da. Missa-memória. Missa-homenagem. In: Mundo e Missão, São Paulo, n. 77, novembro 2003, p. 34-35.
[5] Id. Eu te adoro, hóstia divina. A propósito da adoração ao Santíssimo Sacramento e a missa. In: Revista de Liturgia, São Paulo, n. 166, 2001, p. 4-5; Grande Sinal, Petrópolis, 55, 2001, p. 437-443; id. Missa e adoração ao Santíssimo Sacramento. Aprendendo da História. In: Mundo e Missão, São Paulo, n. 77, novembro 2003, p. 34-35.

[6] Cf. o que maravilhosamente lembra o papa João Paulo II em sua Carta Apostólica “Mane nobiscum, Domine” (= Coleção “A voz do Papa” 187). São Paulo, Paulinas, 2005, nn. 27-28, p. 30-32.