terça-feira, 14 de maio de 2013

PENTECOSTES
(Prof. Vanderson de Sousa Silva)

 a) Definição: A palavra “Pentecostes” vem do grego e significa "Qüinquagésimo". É o 50° dia depois da festa da Páscoa. É a solenidade da vinda do Espírito Santo. Junto com Natal e a Páscoa, forma o tripé mais importante do Ano Litúrgico; esta é a razão que explica porque o Pentecostes pertence ao Ciclo da Páscoa.


Antes de ser uma festa dos cristãos, Pentecostes foi festa dos judeus, cuja origem se perdeu nas sombras do passado. Antes de se chamar assim, tinha outros nomes, tais como: Festa da Colheita (Ex 23,14-17), porque celebrava-se na colheita dos primeiros feixes de trigo; Festa das Semanas (Ex 34,22). A explicação desta designação nos é dada pelo Levítico (23,15-21) segundo o qual se calculava 7 semanas a partir do início da colheita do trigo: 7 semanas x 7 dias = 49 dias. Portanto, tratava-se de uma festa eminentemente agricola.

Com o tempo, o Pentecostes perdeu a sua ligação com a vida dos agricultores, recebeu o nome grego de Pentecostes e tornou-se uma festa cívico-religiosa. No tempo de Jesus, o Pentecostes recordava também o dia em que, no Monte Sinai, Deus entregou as tábuas da Lei a Moisés (os Dez Mandamentos). Por isso, os Actos dos Apóstolos fazem coincidir a vinda do Espírito Santo com a festa judaica de Pentecostes.


b) O Pentecostes cristão: origem e evolução

Desde o princípio, o Pentecostes cristão foi uma sucessão de 50 dias, começando pelo Domingo da Ressurreição, e incluia a solenidade de Pentecostes e suas vigílias. Sob influência do livro dos Actos dos Apóstolos, celebrava-se nesses dias a descida do Espírito Santo. No século IV, a noite de Pentecostes era reservada aos baptismos adiados, tudo era organizado a modelo da vígilia pascal.


Aorigem do Pentecostes cristão é narrada por São Lucas (Actos 2,1-11). Sem muita busca, seríamos tentados a responder que apenas os Doze apóstolos são os que receberam o Espírito Santo. Mas lendo com atenção o contexto desse acontecimento poderemos chegar a outras conlcusões.
De facto, em Actos dos Apóstolos, São Lucas diz-nos o seguinte:

«Antes que viesse o Espírito, os apóstolos voltaram para Jerusalém, pois se encontravam no chamado monte das Oliveiras, não muito longe de Jerusalém: uma caminhada de sábado. Entraram na cidade e subiram para a sala de cima, onde costumavam hospedar-se. Aí estavam Pedro e João, Tiago e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão Zelote e Judas, filho de Tiago. Todos eles tinham os mesmos sentimentos e eram assíduos na oração, junto com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, com os irmãos de Jesus. Aí estava reunido um grupo de mais ou menos cento e vinte pessoas» (Act 1,12-15a).

Além disso, no dia de Pentecostes, já com Matias substituindo o discípulo traidor (Judas), Lucas afirma que “todos eles estavam reunidos no mesmo lugar” (Act 2,1). O seu discurso, depois de terem recebido o Espírito Santo, Pedro cita o profeta Joel, que previa a efusão do Espírito sobre todas as pessoas:

«Nos últimos dias, diz o Senhor, eu derramarei o meu Espírito sobre todas as pessoas. Os filhos e filhas de vocês vão profetizar, os jovens terão visões e os anciãos terão sonhos. E, naqueles dias, derramarei o meu Espírito também sobre meus servos e servas, e eles profetizarão» (Act 2,17-18; Joel 3,1-5). Não se pode, portanto, afirmar que somente os Doze apóstolos é que receberam o Espírito.

c) O fenómeno de falar em línguas

O dom de falar línguas estranhas era um fenômeno restrito, praticamente às comunidades cristãs de Corinto. Esse dom tem pouco a ver com a Pentecostes narrado em Actos 2,1-11. Em Corinto, as pessoas rezavam a Deus em línguas estranhas, todas juntas, sem que alguém compreendesse coisa alguma. Paulo põe ordem nessa "babel", mandando que orem um por cada vez, com intérprete (1 Cor 12-14). Mas o livro dos Actos dos Apóstolos relata o seguinte:

«Todos ficaram repletos do Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem. Acontece que em Jerusalém moravam judeus devotos de todas as nações do mundo. Quando ouviram barulho, todos se reuniram e ficaram confusos, pois cada um ouvia, na sua própria língua, os discípulos falarem. Espantados e surpresos, diziam: 'Esses homens que estão falando, não são todos galileus? Como é que cada um de nós os ouve em sua própria língua materna? ... E cada um de nós em sua própria língua os ouve anunciar as maravilhas de Deus!» (2,4-8.11).

São Lucas montou fala-nos do episódio de Pentecostes sobre o molde da entrega da Lei a Moisés, ou seja, sobre o molde do Pentecostes judaico. Comparando Actos 2,1-11 com Êxodo 19,1-20,21, notam-se coincidências consideráveis: Em Êxodo, todo o povo reunido ao redor do monte; em Actos, o mundo inteiro reunido em Jerusalém. No Êxodo, relâmpagos, trovões, nuvem escura etc., símbolos de teofania (manifestação de Deus); nos Atos, vento forte, línguas de fogo, (símbolos teofánicos da manifestação do Espírito de Deus).

d) A Teologia de Pentecostes



A mensagem de Pentecostes é ilustrada, sobretudo, pelas suas próprias leituras, que são sempre as mesmas: Act 2,1-11; 1 Cor 12,3b-7.12-13; Jo 20,19-23. Nestas leituras encntramos:

1. O Espírito Santo é supremo dom do Pai e de Jesus dado à Humanidade.
2. Ao soprar o Seu Espírito sobre os discípulos, Jesus está recriando a Humanidade.
3. Recebendo o Espírito de Jesus, os cristãos recebem igualmente a mesma missão, dada aos Apóstolos, que é de anunciar a mensagem do Mistério Pascal.
4. O Espírito Santo é dado a todos. Ninguém fica sem ele, e ninguém o possui plenamente.
5. O Espírito leva a Humanidade a formar uma só família, no amor, ideia diferente de Babel.

Por isso, para marcar o fim do tempo Pascal, é apagado o cirio Pascal, não mais depois da proclamação do Evangelho da Ascensão, mas depois das completas do domingode Pentecostes.


V. TEOLOGIA DO TEMPO PASCAL

A teologia deste tempo é: O Jesus, que nos salva plenamente, segundo o plano de Deus, não é o Jesus de Natal e da Cruz, mas o ressuscitado e glorificado, Aquele que foi costituído pelo Pai como Messias e Senhor no pleno exercício do seu sacerdócio, Novo Adão e fonte do Espírito vivificante.

O mistério da ascensão, que é também parte integrante do Mistério Pascal, constitui a inauguração da realeza universal e cósmica do Senhor e do seu poder no mundo (Ef 1, 22-23).

O Tempo Pascal, em que Deus encerrou a celebração da Páscoa, conclui-se com a solenidade da vinda do Espírito Santo (o Domingo de Pentecostes) que leva ao cumprimento pleno o Mistério Pascal e revela a todos os povos os mistérios ocultos nos séculos, reunindo as linguagens da família humana na profissão duma única fé[7].



Na Páscoa a liturgia alcança o seu valor perene e existencial, que faz dela a razão de vida do cristianismo, não como proposição doutrinal, mas como momento em que se realiza o Mistério de Cristo (SC 2). É a partir do evento Pascal que a Páscoa de Cristo é colocada no centro da História da Salvação e no centro de toda liturgia [8].

Com a Páscoa toda Humanidade foi verdadeiramente liberta e salva. Por isso, a SC 5, vê a Ressurreição e a Ascensão de Cristo como a chave do Mistério Pascal, não se detendo a ressaltar apenas a natureza do evento, mas também o seu sentido escatológico: a Páscoa de Cristo pre-anuncia a Pascoa dos homens. Enquanto na Incarnação realiza-se a união da Humanidade com Deus, no Tempo Pascal manifesta-se a glória de Deus à Humanidade.


CONCLUSÃO

Tempo Pascal é o período litúrgico que vai desde o Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor até a solenidade do Pentecostes. É constituído por 50 dias, ou seja, 8 semanas litúrgicas, por isso, também se chamado de Quinquagésima Pascal. Durante este tempo celebra-se o mistério salvífico de Cristo (Morte, Ressurreição, Ascensão e Pentecostes) como uma única festa, pois todos os dias são festivos.


Os primeiros 8 dias, formam a Oitava da Páscoa, celebram o Mistério Pascal com maior vigor e alegria como se fosse o mesmo dia da Ressurreição. No Tempo Pascal encontramos três solenidades que integram o Mistério Pascal (Páscoa do Senhor, Ascensão do Senhor e Pentecostes). Todos os dias cantam-se o Aleluia e o Glória.

Devido as exigências da vida moderna, a estrutura do Tempo Pascal foi sofrendo modificações até chegar a forma actual, segundo o Missal Romano, mas sem perder o seu sentido teológico e eclesial, que é de constituir o período mais carcante da vida da Igreja.

Bibliografia
MARTIMORT A. G., A Igreja em Oração – Introdução à Liturgia, Ed. Ora et Labora, 1965.
VIDIGAL J. R., Anámnesis 1, Paulinas, São Paulo, 1991.
AUGÉ M., Anamnesis 5, O Ano Litúrgico – História, Teologia e Celebração, Paulinas, São Paulo 1991.
BERGAMINI A, Tempo Pascal, DL, Paulinas, São Paulo 1992.


[1] Cf. M. AUGÉ, Anamnesis 5, O Ano Litúrgico – História, Teologia e Celebração, Paulinas, S. Paulo 1991, p.132.
[2] Cf Ibidem, p. 136.
[3] Cf. A. G. MARTIMORT, A Igreja em Oração – Introdução à Liturgia, Ed. Ora et Labora, 1965. P. 821.
[4] Ibidem.
[5] Cf. M. AUGÉ, Op. cit, p.139.
[6] Idem, p. 140.
[7] Cf. A. BERGAMINI, Tempo Pascal, in Dicionário de Liturgia, Paulinas, S. Paulo 1992, p. 1201.
[8] Cf. J. R. VIDIGAL, Anámnesis 1, S. Paulo, 1991, p 117.

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