quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Mistagogia do Tempo Comum

Celebrar o Tempo Comum



O Tempo Comum é o período mais longo do ano litúrgico, constituído de 33-34 semanas, que têm duas etapas diferentes. “O Tempo Comum começa no dia seguinte à celebração da festa do Batismo do Senhor e se estende até a terça-feira antes da quaresma, inclusive. Recomeça na segunda-feira depois do domingo de Pentecostes e termina antes das Primeiras Vésperas do primeiro domingo do
Advento”.

1 É o tempo litúrgico que mais passou por modificações no Concílio Vaticano II. Ele surgiu antes mesmo da celebração anual da Páscoa, isto é, quando o domingo era o único elemento celebrativo no decorrer do ano: celebração semanal da Páscoa.O Tempo Comum é marcado pelo ano litúrgico no seu ritmo semanal, ou seja, tem como centro o domingo, primeiro e oitavo dia da semana, dia do Senhor, Páscoa, memória da morte e ressurreição do Senhor. No domingo os cristãos fazem sua reunião semanal, como assembléia litúrgica. Tal assembléia é caracterizada pela alegria, encontro dos irmãos, música, flores, partilha de bens, partilha da mesa da palavra e da mesa eucarística.Ao falar sobre o domingo não esqueçamos que o Tempo Comum existe em função de todo o funcionamento do ano litúrgico, pois a função principal de tal tempo é celebrar o mistério de Cristo ao longo dos domingos, através dos anos e ciclos A, B e C.


O ano litúrgico em si é uma criação metodológica da Igreja, mas o seu conteúdo é a essência da fé da Igreja, ou seja, o mistério de Cristo, sua morte e ressurreição. Todos os acontecimentos bíblicos visam unicamente o ponto central da plenitude dos tempos, a morte e ressurreição de Jesus Cristo. A palavra MISTÉRIO (mystêrion, em
grego) tem suas origens nas chamadas religiões mistéricas que acreditavam em segredos do mundo pós-morte que eram revelados através de ritos.







No Antigo Testamento já encontramos tal mentalidade (Tb 12, 7; Jt 2, 2; Dn 2, 18s.27-30; Sb 14, 15) e também no Novo Testamento o conceito evoluiu (Ef 3, 3-9; Cl 1, 26-27; 2, 2-3; 4,3). Na Igreja a palavra mistério passa a ser compreendida como a vida de Cristo em nossa vida, ajudando-nos a fazer o caminho em direção ao Pai. Deus se fez humano, para que o humano se faça divino. Cada celebração litúrgica dominical e semanal é revelação, memória, atualização do mistério de Cristo em nossa vida, pois quando Cristo cura o cego é a nossa cegueira que é curada, quando a pecadora é perdoada, nós é que somos perdoados... Diante de tal consciência fica claro que o ano litúrgico celebra o mistério de Cristo e não temas que surgem de gosto particulares ou para realçar necessidades.



Devemos evitar criar temas para nossas celebrações, tal como, por exemplo, Missa em honra de Nossa Senhora, Missa em louvor a Santo Antonio, Missa de Avivamento, Missa de Cura e libertação entre outros. Os Evangelhos não apresentam temas, mas sim o mistério de Cristo celebrado em cada domingo, que em ordem crescente vai revelando as ações salvíficas da vida de Cristo, de sua pregação até o fim dos tempos.


As leituras do Antigo Testamento são escolhidas por sua ligação com os textos dos evangelhos, pretendendo-se assim mostrar a unidade dos dois Testamentos. Não poucas vezes o mistério central das leituras dominicais pode também ser identificado a partir do salmo responsorial e praticamente por seu refrão. As leituras apostólicas não dependem do mistério apresentado pelo evangelho, mas é feita segundo o critério da leitura alternada.



O conjunto da eucologia (orações da Igreja, orações litúrgicas), por exemplo, prefácios, orações eucarísticas, orações da coleta contribuem para o aprofundamento do mistério por meio de uma linguagem que, partindo do seu conteúdo bíblico, procura estabelecer ligação entre o mistério celebrado e a vida da assembléia. Assumir o mistério de Cristo no Tempo Comum significa levar a sério o fato de ser seu discípulo, escutar e seguir o Mestre na rotina de todos os dias, não para deixar em segundo plano a vida normal, mas para marcá-la como momento salvífico.

O Tempo Comum é o tempo de confrontação permanente e de identificação contínua entre o mistério de Cristo e a vida dos cristãos e revela uma relação especial com o dia-a-dia da vida, com suas diversificadas situações e com as várias atividades humanas.




2 Para que o Tempo Comum, o domingo como páscoa semanal seja vivido com toda intensidade requer-se das equipes de liturgia e equipes de celebrações uma grande formação e preparação.




ORIENTAÇÕES PARA EQUIPES DE CELEBRAÇÃO:



1-Preparação da Celebração Litúrgica: a) Pedir as luzes do Espírito Santo (oração ou canto); b) Avaliar a celebração passada (critica construtiva); c) Situar o mistério e a vida da comunidade (ver o domingo e o tempo litúrgico, acontecimentos da comunidade e do mundo); d) Fazer a experiência da Palavra (leitura do evangelho, primeira leitura, salmo, segunda leitura acompanhadas de uma breve reflexão); e) Criatividade (o que podemos fazer para destacar o mistério celebrado – símbolos, cantos...); f) Elaborar o roteiro; g) Distribuir ministérios; h) Ensaiar as leituras da Palavra de Deus, conforme cada gênero literário.
Obs: A oração dos fiéis deve brotar como resposta à Palavra de Deus, para aplicá-las à vida da comunidade.


2- Escolha dos cantos apropriados: Os cantos também são importantíssimos ao longo do tempo comum para que realmente expressem os mistérios de Cristo. O povo deve ser levado a cantar o mistério de Cristo em suas vidas. Conforme a orientação do Concílio Vaticano II, a música apropriada à liturgia é aquela que está mais intimamente integrada à ação litúrgica e ao momento ritual ao qual ela se destina.



3 - Conforme a orientação da CNNB, os cantos durante o Tempo Comum devem expressar o mistério de Cristo. Mais do que “cantar na liturgia”, é necessário aprender “a cantar a própria liturgia”. Os cantos de entrada e comunhão visam condizer com a ação sagrada e com a índole do dia ou do tempo, cujo texto tenha sido aprovado pela Conferência dos Bispos.



4- Exemplo de orientação para o canto de comunhão: a) Nos cantos evitem-se textos que apresentam excessivas doses de subjetivismo, pois o importante é ressaltar a dimensão do corpo de Cristo, a Igreja; b) Igualmente devem-se evitar os hinos eucarísticos que são usados na adoração ao Santíssimo, pois carecem das dimensões do Mistério que celebramos no Tempo Comum; c) Na medida do possível, o canto esteja em consonância com o evangelho proclamado em cada celebração. Afinal, a Palavra se faz eucaristia!

Bibliografia
BERGAMINI, A., Cristo, festa da Igreja: história, teologia, espiritualidade e pastoral do Ano Litúrgico. São Paulo: Paulinas, 1994.


CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Sacrosanctum Concilium, São Paulo: Paulinas, 2004.


CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO. As introduções gerais dos livros litúrgicos. São Paulo: Paulus, 2003.


CNBB. Guia Litúrgico-Pastoral. Itaici: CNBB, 2007.


Instrução Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário.


AUGÉ, Matias. Domingo – Festa primordial dos cristãos. São Paulo: Ave-Maria, 2000.


SARTORE, Dionísio; TRIACCA, Achille M., Dicionário de liturgia. São Paulo: Paulus, 1992.

2 comentários:

  1. Existe alguma origem para os tempos liturgicos, na liturgia da Igreja?

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  2. Sim existe sim...
    Um excelente livro para aprofundar é o do Augusto Bergamini. Cristo Festa da Igreja.história, teologia, espiritualidade e pastoral do Ano Litúrgico. São Paulo: Paulinas, 1994.

    Boa leitura e estudo

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