quarta-feira, 11 de abril de 2012

Formação e evolução do Tempo Pascal

I. FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DO TEMPO PASCAL

Até ao século IV, para os padres apostólicos, a Páscoa era uma celebração que continuava durante cinquenta dias, pois todo dia é festivo. A Quinquagésima Pascal começava com o dia da ressurreição do Senhor (Domingo da Páscoa) e se desenvolvia em oito domingos sucessivos. Já no século V a unicidade celebrativa da Quinquagésima Pascal tende a romper-se, visto que se criavam celebrações específicas durante a Quinquagésima, fazendo-os perder assim o seu aspecto unitário.

Com a Reforma Litúrgica do Concílio Vaticano II, procurou-se fazer com que os fiéis descobrissem a unicidade da Quinquagésima Pascal. O Missal do Papa Pio V, por exemplo, trazia como título: Dominica Resurrectionis (Domingo da Ressurreição), enquanto o Missal actual usa o título: Dominica Paschae in resurrection Dominis (Domingo de Páscoa na Ressurreição do Senhor). Deste modo, o Domingo de Páscoa não é o Domingo da Ressurreição, mas Domingo na Ressurreição do Senhor.

Analogamente, os domingos seguintes ao Domingo da Páscoa ao invés de se chamarem “Segundo Domingo depois da Páscoa”, por exemplo, passaram a chamar-se Domingo II da Páscoa Dominica secunda Paschae, para sublinhar a unicidade da Quinquagésima Pascal. Da mesma forma, foi abolido o Tempo da Ascensão Tempus Ascensionis ficando apenas os Domingos de Páscoa, que incluem o Domingo da Ascensão.

Para o Pentecostes, foi suprimida a Oitava de Pentecostes, que constituia contra-senso e comprometia a teologia da Quinquagésima Pascal.[1] Em relação ao Lecionário, só a Liturgia Romana mandava ler as cartas apostólicas que não tinham ligação alguma com o tempo celebrado; as outras liturgias, porém, liam os Actos dos Apóstolos e o Apocalipse.

E foi elaborada a seguinte temática de leituras, de acordo com os domingos da Quinquagésima:
Domingo de Páscoa: Cristo ressuscitado.
Domingo II: a comunidade dos que crêem em Cristo morto e ressuscitado (domingo de S. Tomé).
Domingo III: Cristo ressuscitado aparece aos seus.
Domingo IV: a salvação passa através de Cristo, porta do redil e Bom Pastor.
Domingo V: a comunidade se constitui: os ministérios e a vida no amor mútuo.
Domingo VI: a expansão da comunidade e a promessa do Espírito.
Domingo VII: Ascensão, as testemunhas da glória de Jesus, a oração ao Pai.
Domingo VIII: o Pentecostes, a efusão do Espírito Santo sobre toda a Igreja.

II. OITAVA DA PÁSCOA
Tal como nas festas hebraicas (Ex 12,15; 19) a Páscoa cristã foi provida duma oitava, também chamada por “Semana da Páscoa”.
Esta semana começava pela vigília pascal, porque nela celebrava-se primitivamente a Oitava do Baptismo Pascal, e terminava no Sábado que antecedia o Domingo II da Páscoa, considerado como um único dia de festa.
Sob esta forma, a Oitava já existia desde o século IV, ao que Santo Agostinho considerou de Ecclesiae consuetudo[2], isto é, o costume da Igreja.

Devido à exigências da vida moderna, com o desaparecimento do baptismo dos adultos, esta Oitava perdeu o seu carácter baptismal e transformou-se em “Oitava da Ressurreição” e o oitavo dia ficou transferido para o Domingo II da Páscoa[3].No missal actual, o intróito, a sequência, o evangelho e o ofertório, da Oitava da Páscoa celebram a ressurreição de Cristo.

Toda a liturgia desta semana ensina que a Ressurreição é o princípio da nossa salvação. Ela é fonte da nossa renovação (epístolas e antífonas da comunhão) e por meio da celebração eucarística, procura a possibilidade de caminhar para a eternidade (secreta) para a qual nos abriu o acesso (colecta)[4].

Todas as primeiras leituras são extraídas do livro dos Actos dos Apóstolos, distribuídas de seguinte modo:
2ª feira: apresentação das testemunhas da ressurreição (Act 2,14-32); o Evangelho descreve o encontro de Jesus ressuscitado com as piedosas mulheres (Mt 28,8-12).
3ª feira: exortação à conversão na fé em Cristo ressuscitado e ao Baptismo (Act 2,36-41); o Evangelho fala da aparição de Jesus ressuscitado à Maria (Jo 20,11-18).
4ª feira: Pedro cura um paralítico, em nome de Jesus Cristo ressuscitado (Act 3,1-10) e Jesus se dá a conhecer aos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35).
5ª feira: Pedro prega sobre a morte do autor da vida para salientar a ressurreição de Jesus Cristo (Act 3,11-26); o Evangelho atesta a realização do anúncio feito pelos profetas: Cristo ressuscitou ao 3º dia (Lc 24,35-48).
6ª feira: sublinha-se que só em Jesus Cristo há salvação (Act 4,1-12); o Evangelho descreve a aparição de Jesus nas margens do lago de Tiberíades, onde come pão e peixe com os discípulos (Jo 21,1-14).No Sábado: se declara o anúncio pascal e, em Mc 16,9-15, Jesus envia os seus discípulos por todo o mundo a anunciar a Boa Nova a toda criatura.

O Domingo II da Páscoa, o sacramentário gregoriano intitula-o Dominica post alba. Hoje, com a renovação do Vaticano II, a Oitava da Páscoa chega ao fim com o Sabado in albis. Mas a Semana III da Páscoa começa na segunda feira depois do Domingo II da Páscoa.


III. TEOLOGIA DO TEMPO PASCALA

A teologia deste tempo é: O Jesus, que nos salva plenamente, segundo o plano de Deus, não é o Jesus de Natal e da Cruz, mas o ressuscitado e glorificado, Aquele que foi costituído pelo Pai como Messias e Senhor no pleno exercício do seu sacerdócio, Novo Adão e fonte do Espírito vivificante.

O mistério da ascensão, que é também parte integrante do Mistério Pascal, constitui a inauguração da realeza universal e cósmica do Senhor e do seu poder no mundo (Ef 1, 22-23).
O Tempo Pascal, em que Deus encerrou a celebração da Páscoa, conclui-se com a solenidade da vinda do Espírito Santo (o Domingo de Pentecostes) que leva ao cumprimento pleno o Mistério Pascal e revela a todos os povos os mistérios ocultos nos séculos, reunindo as linguagens da família humana na profissão duma única fé[7].
Na Páscoa a liturgia alcança o seu valor perene e existencial, que faz dela a razão de vida do cristianismo, não como proposição doutrinal, mas como momento em que se realiza o Mistério de Cristo (SC 2). É a partir do evento Pascal que a Páscoa de Cristo é colocada no centro da História da Salvação e no centro de toda liturgia [8].

Com a Páscoa toda Humanidade foi verdadeiramente liberta e salva. Por isso, a SC 5, vê a Ressurreição e a Ascensão de Cristo como a chave do Mistério Pascal, não se detendo a ressaltar apenas a natureza do evento, mas também o seu sentido escatológico: a Páscoa de Cristo pre-anuncia a Pascoa dos homens. Enquanto na Incarnação realiza-se a união da Humanidade com Deus, no Tempo Pascal manifesta-se a glória de Deus à Humanidade.


IV. CONCLUSÃO

Tempo Pascal é o período litúrgico que vai desde o Domingo da Páscoa na Ressurreição do Senhor até a solenidade do Pentecostes. É constituído por 50 dias, ou seja, 8 semanas litúrgicas, por isso, também se chamado de Quinquagésima Pascal. Durante este tempo celebra-se o mistério salvífico de Cristo (Morte, Ressurreição, Ascensão e Pentecostes) como uma única festa, pois todos os dias são festivos.

Os primeiros 8 dias, formam a Oitava da Páscoa, celebram o Mistério Pascal com maior vigor e alegria como se fosse o mesmo dia da Ressurreição. No Tempo Pascal encontramos três solenidades que integram o Mistério Pascal (Páscoa do Senhor, Ascensão do Senhor e Pentecostes). Todos os dias cantam-se o Aleluia e o Glória.

Devido as exigências da vida moderna, a estrutura do Tempo Pascal foi sofrendo modificações até chegar a forma actual, segundo o Missal Romano, mas sem perder o seu sentido teológico e eclesial, que é de constituir o período mais carcante da vida da Igreja.

Bibliografia
MARTIMORT A. G., A Igreja em Oração – Introdução à Liturgia, Ed. Ora et Labora, 1965. VIDIGAL J. R., Anámnesis 1, Paulinas, São Paulo, 1991.
AUGÉ M., Anamnesis 5, O Ano Litúrgico – História, Teologia e Celebração, Paulinas, São Paulo 1991.
BERGAMINI A, Tempo Pascal, DL, Paulinas, São Paulo 1992.

[1] Cf. M. AUGÉ, Anamnesis 5, O Ano Litúrgico – História, Teologia e Celebração, Paulinas, S. Paulo 1991, p.132.
[2] Cf Ibidem, p. 136.
[3] Cf. A. G. MARTIMORT, A Igreja em Oração – Introdução à Liturgia, Ed. Ora et Labora, 1965. P. 821.
[4] Ibidem.
[5] Cf. M. AUGÉ, Op. cit, p.139.
[6] Idem, p. 140.
[7] Cf. A. BERGAMINI, Tempo Pascal, in Dicionário de Liturgia, Paulinas, S. Paulo 1992, p. 1201. [8] Cf. J. R. VIDIGAL, Anámnesis 1, S. Paulo, 1991, p 117.
Por: Jereminas Manuel. Acessado em http://jeremiasmanuel.blogspot.com.br/.

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