sábado, 11 de junho de 2011

Espiritualidade Trinitária: aspectos litúrgicos

Espiritualidade Trinitária: aspectos litúrgicos

Por Vanderson de Sousa Silva, Mestrando em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, formado em Teologia, Filosofia, Pedagogia e graduando-se em Ciências Sociais, contato: semvanderson@hotmail.com)

Dado que a Liturgia tem como centro gravitacional o Mistério do Deus Uno-Trino onde giram todas as suas celebrações, que intentão render culto de adoração, a Espiritualidade dimanada dela somente poderia ser Trinitária.
Não olvidemo-nos, de que a Liturgia, estrutura-se num movimento - anabático e catabático - de subida e descida. Dos homens (louvor, adoração, eucaristia) ao Pai, pelo Filho, no Espírito - subida. Bem como, num movimento descendente, do Pai (eleição-graça-salvação), pelo Filho, no Espírito, aos homens.



A estrutura anabático-catabática da liturgia corrobora-se pelo fato de que a relação do Deus Uno-trino, com a humanidade, exerce-se num movimento ininterrupto de constante kenoses. O Pai - esvazia-se - de si para gerar eternamente seu amado Filho, este por sua vez, torna-se a imagem encarnada do ‘empobrecimento’, assumindo a condição humana, na carne, fazendo-se um ‘ser-para’. Grandes implicações esta estrutura trará para a espiritualidade, ou seja, a mesma, é antes de tudo uma relção Trinitária de diálogo anabático-catabático.

A teologia redescobriu no movimento litúrgico a estrutura fundamental da oração litúrgica, esta, ou é trinitária ou não será verdadeiramente cristã. Bem como, possibilitou à teologia trinitária, perceber-se na lex orandi, visto que, a lex credendi, possui sua fonte e ápice no ato celebrativo, não podemos separar o ‘ato de fé’ do ‘ato celebrativo’ e o ‘ato de viver’ .
A imagem-esvaziada do Filho na Ceia-cruxifixão-morte-descida aos infernos, encontra seu máximo despojamento no sopro de seu hálito-pneumático sobre a Igreja e o mundo. O Espírito Santo doado por Cristo, pode ser vislumbrado como o ícone vivo deste esvaziamento contínuo da Trindade, que não cessa de doar-se ao homem. O Espírito Santo é em sua essência epiclética, ou seja, é descida. É por obra do Espírito Santo, que a liturgia é a celebração no tempo e no espaço do opus redemptionis , ou seja, o plano histórico-salvífico realizado pelo Pai em Cristo, é atualizado sacramentalmente em cada ação litúrgica. Como tal, a liturgia é essencialmente epifania do Espírito de Cristo Ressuscitado.
Para uma melhor visualização da estrutura trinitária das orações litúrgico-eclesiais, observemos alguns textos litúrgico-eucológicos:

Concedei-nos, ó Deus todo-poderoso, iniciar com este dia de jejum o tempo da Quaresma, para que a penitência nos fortaleça no combate contra o espírito do mal. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Ouvi, ó Pai, as nossas preces para que, ao afirmarmos nossa fé na ressurreição do vosso Filho, se confirme também nossa esperança na ressurreição de vosso servo N. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Deus Pai de misericórdia, que pela morte e ressurreição do vosso Filho, enviou o Espírito Santo para a remissão dos pecados, te conceda pelo ministério da Igreja, o perdão e a paz. Eu te absolvo dos teus pecados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Após, a observação destas orações litúrgicas, conclui-se que a Liturgia cristã, bem como a espiritualiade é patrofinalizada, cristomediatizada e pneumato-amalgamada. Respectivamente, estas querem expressar o seguinte conceito teológico: toda a oração se dirige ao Pai, enquanto princípio fontal e meta de todo o agir humano. É mediada pelo Cristo - Jesus é o Sumo e eterno sacerdote da Nova Aliança e o único mediador. Assim, como é pela ação do Espírito Santo – pneuma, que se ‘forma’ a oração em nós, assim, como afirma Paulo - “[...] o próprio Espírito ora em nós com gemidos inefáveis”. “Tudo vem do Pai pelo Filho no Espírito; e tudo, no mesmo Espírito, pelo Filho ao Pai”.




A estrutura trinitária da Litúrgica conduz o orante a uma experiência mística com a Trindade, contudo, esta só é possível pela ação do Espírito Santo, Aquiles Triacca afirma que:

Se a celebração litúrgica não for sinal do Espírito, ela nada será. Com efeito, a verdadeira essência da ação litúrgica consiste em ser-epifania-do-Espírito Santo. Ora, o Espírito, por meio da Escritura, foi iconógrafo, isto é, operou no hagiógrafo a revelação do ícone do Pai, que é Jesus Cristo (cf. 2Cor 4,4; Cl 1,15). Em Maria, ele foi iconoplasta, ou seja, é plasmador do próprio ícone (do Verbo). Na ação litúrgica, ele simultaneamente iconógrafo, iconoplasta e iconóforo, isto é, portador do ícone do Pai presencializado e vivificado.



Portanto, o Espírito Santo - plasma, porta e escreve o ícone da Trindade no orante da prece litúrgica. A ação litúrgica pela epíclese do Espírito Santo é apofática, no sentido de contemplar o Mistério, sem racionalizá-lo com o excesso discurso teológico.
A estrutura da oração litúrgica nos vários: Ordos, sacramentais e livros litúrgicos, segue sempre a doxologia Trinitária - ao Pai, pelo Filho no Espírito. Esta estrutura Trinitária é normativa e modelo para toda oração cristã, pode-se mesmo afirmar que a lex orandi e lex credendi, transbordam na moral de atitude cristã, pois a vida do cristão é relação com a Trindade - lex vivendi. Em suma, a Espiritualidade Litúrgica é patrofinalizada, cristomediatizada e pneumato-amalgamada.

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