domingo, 6 de março de 2011


2. A “ditadura do relativismo” - patologia do pensamento moderno.

Por: Vanderson de Sousa Silva, Mestrando em Teologia pela PUC-RJ, pedagogo, filósofo e graduando-se em Ciências Sociais pela UFF. (semvanderson@hotmail.com)


O pensamento Ocidental marcadamente teve a influência do Cristianismo, enquanto este possibilitou ao ato de pensar o imperativo da “busca da Verdade”. A verdade, enquanto meta do pensamento do homem foi perseguida desde os primeiros filósofos jônicos, eleatas e da “arché”. Pensemos em Parmênides, Heráclito, Pitágoras e ainda mais, na sede de encontrar a verdade, em Sócrates, em sua aceitação da morte por acreditar em seu encontro com a experiência única da verdade; um Platão, com sua teoria da iluminação, do mito da caverna; Aristóteles, Plotino, Avicena, Averróis. Os medievais, Duns Scoto, Tomás de Aquino, um Boaventura, Abelardo, para não citar outros.
Contudo, na modernidade, Descartes com seu “método cartesiano” revoluciona a forma de “fazer” o ato de pensar do homem, com seu famoso adágio - “penso, logo existo”, Descartes desconstrói a relação ato de pensar-verdade. Partindo da dúvida, Descartes, busca um “porto seguro”, visto que a própria inteligência tende para a verdade, é pelo “ato de pensar” que se vai excluindo o erro e depurando o real, neste processo de lapidação pela inteligibilidade, o pensante alcança a verdade do pensado, assim, Descartes somente aceita a verdade inicial do “pensar, logo existo”. Ainda que a “plenitude” da verdade, seja para alguns dificilmente atingível, pela depuração e exclusão do erro, vai-se galgando uma escala: distanciamento da inverdade e aproximação da Verdade.
Uma nova corrente de filósofos modernos, sejam pró-cartesianos ou ante-cartesianos, vão progressivamente desvinculando a verdade como realidade a ser alcançada pelo ato de pensar e sua adequação com o real. O adequatio intelectus in res de Tomas de Aquino e de toda uma corrente aristotélica e do aristotelismo, vai sendo, substituída pela ''adequação da verdade á prova técnico-científica”.
Vivemos na “ditadura do relativismo”. O que viria a ser esta “ditadura do relativismo”? O que esta esconde por trás de um discurso da diversidade? A ditadura é uma imposição de algo as pessoas, sem concedê-las liberdade, esta encontra-se sob a tutela de outrem de forma desrespeitosa, é uma violação do maior bem do homem – a liberdade.
Enquanto, o relativismo é a totemização do relativo. Que existam coisas relativas, é inegável, o que torna-a tão perigosa é a generalização de que “tudo é relativo” e a sutil, mas destruidora convicção moderna de que anunciar a Verdade e a fé, é desrespeitar a diversidade, é ser anti-ecumênico, anti-científico... é ser fundamentalista.
A “ditadura do relativismo” impregnou todas as esferas: sócio-políticas, acadêmicas, artísticas, teológicas e bem como das religiões. Poder-se-ai, até mesmo afirmar que esta “ditadura do relativismo” tornou-se parte do pensamento moderno, digo isto, enquanto, que esta, passou a ocupar todas as esferas sociais, intelectuais, as manifestações artísticas e o próprio “modo de pensar” hodierno, como parte constitutiva do esquema mental humano.

No seio da própria Igreja, há um discurso falacioso de que não deve-se mais anunciar nem mesmo a universalidade salvífica de Cristo, ponto até então central e nuclear da Profissão de Fé cristã, agora posto em cheque por um falso-ecumenismo, uma pseudo-missionaridade e mais falso-diálogo inter-religioso.
O que soa, ainda mais paradoxal nesta “ditadura do relativismo teológico” é que o Cristianismo anuncia não um sistema filosófico, uma moral universal, ou ainda, uma caridade do assistencialismo, muito menos, uma “filosofia de auto-ajuda”, mas antes uma pessoa – Jesus Cristo. E este diz: “conhecereis a VERDADE e ela vos libertará”, ou ainda “Eu sou... a Verdade”. No entanto, os arautos da moderna “teologia”, querem esconder a VERDADE, visto que esta para eles é relativa.
Encontramo-nos em meio a uma verdadeira crise do sentido da verdade. Crise esta, que leva-nos a um sentimento de insegurança frente a um mundo de total relativização. Esta crise moderna pode ser observada em todos os segmentos da vida moderna:
• crise da educação – falta de uma direção para o próprio sentido e significação do ato de ensino-aprendizagem;
• crise da família – identidade, novos modelos de “família” (casais homossexuais, filhos de barriga de aluguel, adoções etc...);
• crise da autoridade – seja constituída (poderes políticos, Forças armadas, Polícia - a quem defendem: as elites? etc...);
• crise Ética – o que fundamenta o que é ou não ético? (pesquisas com embriões, aborto, eutanásia, pena de morte, menoridade penal etc...);
• crise política – existe ética na política? O que é ser um homem público? (Interesses pessoais, nepotismo, troca-troca dos partidos etc...)

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