segunda-feira, 18 de junho de 2012

Aspecto teológico do Domingo


No SC 106 se afirma que o Domingo é de origem apostólica. Mas precisa ver se no NT – Cartas apostólicas, Actos dos apóstolos – temos testemunhos relativas à celebração do Domingo. O que significa celebração do domingo?

Quer dizer que os primeiros cristãos, desde os tempos apostólicos, se reuniam em assembleia o dia do Domingo para celebrar a Eucaristia. O domingo não nasce como festa, no sentido de acolhimento de todos os elementos antropológicos da festa. Ora, vejamos três textos bíblicos: 1Cor 16,1-2; Act 20, 7-12; Ap 1, 9-10.



A Encíclica Dies Domini, n 21 afirma: «É nesta base que, desde os tempos apostólicos “o primeiro dia depois do sábado”, o primeiro da semana, começou a caracterizar o próprio ritmo da vida dos discípulos de Cristo (1Cor 16,2). «Primeiro depois do sábado» era também aquele em que os fiéis de Troáde estavam reunidos “para partir o pão”, quando S. Paulo lhes fez o discurso de despedida e realizou um milagre para devolver a vida o jovem Eutico (Act 20,7-12).

O livro do Apocalipse testemunha o costume de dar a esteprimeiro dia da semana o nome de “dia do Senhor” (Ap 1,10). Doravante isto será uma das características que distinguirão os cristãos do mundo circunstante. Já o apontava, no início do segundo século, o governador da Bitínia, Plínio o Moço, constatando o hábito dos cristãos “se reunirem num dia fixo, antes da aurora, e entoarem juntos um hino a Cristo, como a um deus”.

De fato, quando os cristãos diziam “dia do Senhor”faziam-no atribuindo ao termo a plenitude de sentido que lhe vem da mensagem pascal: “Jesus Cristo é o Senhor” (Fil 2, 11; Act2, 36; 1Cor 12, 3). Cristo era assim reconhecido com o mesmo título usado pelas Setenta paratraduzirem, na revelação o AT, próprio nome de Deus, JHWH, que não era lícito pronunciar».



Estes textos confirmam-nos que já nos tempos apostólicos a comunidade cristã se reunia para celebrar a Eucaristia no Domingo – o primeiro dia depois do sábado. Porque o texto de São Paulos aos Coríntios é tão importante, se não se fala de eucaristia nem de assembleia litúrgica? É importante por que São Paulo (55-56) apela de recolher as ofertas para os pobres de Jerusalém num determinado dia: - se trata do primeiro dia da semana que na terminologia daquele tempo, indica o dia depois do sábado hebraíco. Ora Paulo indica este dia para uma regular ou frequente recolha de ofertas. Porquê?


Uma opinião minimalista diz que naquele tempo era uso comum pagar os trabalhadores cada semana e, portanto, o texto não teria outro valor. Pelo contrário, outra opinião equilibrada segue esta linha de pensamento: mesmo que o texto de Paulo não fala explicitamente de uma assembleia cultual, mas pelo facto que indica cada primeiro dia da semana, pressupõe que os primeiros cristãos se reunem naquele dia e podem entregar as suas ofertas para os pobres de Jerusalém. 

Por outro lado, alguns exegetas observam que Paulo, noutros textos, chama a colecta com a palavra “leithourghia”, isto é, “serviço sagrado” (2Cor 9,12; Rm 15,25-27). Outra prova é de São Justino (150) que na primeira Apologia explica o que faziam os primeiros cristãos, descrevendo a liturgia eucaristica e dominical. Aí Justino diz que no fim dessa celebração eucaristica dominical se faz a colecta para os pobres.

O outro texto (Ap 1, 9-10) é do I século, na Ásia Menor. São João é o primeiro a usar a expressão “Domingo”. Em grego corresponde a expressão “Kyriake heméra” que traduz em atim por “Dies Dominica” . Portanto, Kyriaké é um adjectivo. É a primeira e a última vez em que parece esta expressão no NT. Contudo, o texto não fala nem da celebração litúrgica nem eucaristica, mas da visão que João tem do “Dia do Senhor”.

Mas que importância tem este texto? Ora vejasmos:
A expressão “Dia do Senhor” é semelhante àquela usada por São Paulo para indicar a a eucaristia “Ceia do Senhor” (1Cor 11,20). Paulo chama Jesus “Senhor”, só depois da ressurreição. Depois de se realizar o palno de Deus, Jesus é plenamente Senhor e redentor do criado, por isso a ceia do senhor e o dia do senhor manifestam uma certa sintonia.

O que significa o dia do Senhor? Na Didaché (14,1) se pode ler o seguinte – reunidos no dia do Senhor, parti o pão e dai graças. Trata-se talvez da celebração eucaristica dominical. No AT e NT, o dia do Senhor, ou dia de JHWH é uma expressão que indica o dia definitivo e escatológico.

Conclusões importantes

O domingo tem uma teologia que está ligada aos diversos ciclos do ano litúrgico: se pode falar da teologia dos domingos de Advento, do tempo Ordinário ou da Quaresma. Mas o domingo tem a sua consistência anterior ao ciclo anual, quando ainda não havia nem sequer a Páscoa anual. Os primeiros três ou quatro séculos, os Padres da Igreja construiram uma teologia dominical, partindo de uma série de nomes que o domingo recebeu da Bíblia e daprimeira tradição criatã: domingo, o primeiro dia; dia do sol; dia do Senhor; oitavo dia; dia da Trindade.

1. Domingo, o primeiro dia: Ainda hoje, as comunidades cristãs de língua aramaica falam do domingo como o primeiro dia da semana (had bshabba); também os árabes e os etiópes. O Domingo, como o primeiro dia, de um lado, lembra a narração da criação do livro de Génesis (o primeiro dia em que Deua cria a luz), do outro, lembra a narração de Marcos, na qual se evoca a ressurreição de Cristo – primeiro dia depois do sábado (Mc 16,2). São Justino liga de forma explicita, o início da criação com a ressurreição[29]. Diz São Justino que os cristãos se reunem no dia do sol «porque é o primeiro dia no qual Deus, destruiu as trevas e a matéria, criou o mundo e porque Jesus Cristo, nosso Salvador, neste mesmo dia ressuscitou da morte».

2. Merece atenção tema da luz – Domingo, dia do sol. De facto, no AT a luz prefigura como um acontecimento messiánico, enquanto no NT a luz é o acontecimento salvífico de Cristo, a sua pessoa e nova condição daqueles que seguem o mestre. Por exemplo, a aparição de Cristo ressuscitado a Saulo é uma luz esplendente a caminho de Damasco (Act 9,3). O primeiro acto do criator foi aquele de separar as trevas da luz. O fruto da redenção operada por Deus em Cristo é a libertação do mpoder das trevas e o tranferência para o reino de seu filho amado (Col 1,13). Os Padres dos séculos II, III, e IV usam o simbolismo da luz e aplicam-no ao mistério cristológico celebrado no Domingo. Por exemplo, Eusébio de cesarea, Atanásio de Alexandria e Jerónimo usam otermo pagão do dia de sol para falar de Cristo ressuscitado como sol de justiça. No século IV aparecea festa do Natal, em contraposição da festa pagã do Sol invicto.


3. Domingo, dia do Senhor (dominica dies) e, passa às línguas modernas: Domenica, Domingo, Dimanche, etc. A expressão dominica dies passou-se a dominicum para designar a Ceia do Senhor. A expressão dia do Senhor, faz pensar Kyriós, isto é, o ressuscitado. Santo Inácio de Antioquia, na carta Magnesia (9,1) afirma que “aqueles que vivem segundo a antiga ordem das coisas estão abertos a uma esperança nova, não mais celebrando o sábado mas vivendo na observância do dia do Senhor, em que também a nossa vida foi elevada graças a ele e a sua morte”. O dia do Senhor é também o dia da igreja e da eucaristia. A igreja vive e realiza-se quando se recolhe em assembleia convocada em volta do ressuscitado.

4. Domingo, oitavo dia é uma terminologia do NT, sobretudo nos episódios das aparições “oito dias depois, estavam os discípulos outra vez dentro da casa e Tomé com eles” (Jo 20, 26). Dizer que o Domingo é oitavo dia da semana pode parecer paradoxal, na medida em que coincide com o primeiro dia. Todavia, se se pensa em chave simbólico-escatolóica, o oitavo dia é alusão a uma nova realidade, isto anuncia a eterna bem-aventurança, o encontro definitivo com o Ressuscitado.

A Encíclica Dies Domini, n 26 fala do Domingo como oitavo dia, figura da eternidade: “o facto de o sábdo ser o sétimo dia da semana levou a considerar o dia do Senhor à luz de um simbolismo complementar, muito apreciado pelos padres: o Domingo, além de ser o primeiro dia, é também «oitavo dia», ou seja, situado, relativamente à sucessão septenária dos dias, numa posição única e transcendente, evocativa não só do início do tempo, mas também do seu fim no «século futuro». São Basílio explica que o Domingo significa o dia realmente único que virá após o tempo actual, o dia sem fim, que não conhecerá tarde nem manhã, o século imorredouro que não poderá envelhecer; o domingo é o prenúncio incessante da vida sem fim, que reanima a esperança dos cristãos e os estimula no seu caminho. Nesta perspectiva do dia último, que realiza plenamente o simbolismo prefigurativo do sábado. Santo Agostinho conclui as confissões falandodo eschaton como «paz tranquila, paz do sábado, que não entardece». A celebração do Domingo, dia simultaneamente «primeiro» e «oitavo», orienta o cristão para a meta da vida eterna”.

O simbolismo do oitavo dia é de origem cristão e consta em textos anti-judaícos. A carta de Barnaba (15,8-9) consta a expressão oitavo dia. Um autor anonimo, num constexto de polémica com os judeus, coloca na boca de Jesus estas palavras: Não são aceites os sábados de hoje, mas o sábado que eu institui no qual foi dado repouso ao universo, assinalarei o início isto é de um outro mundo. Por esta razão nós festejamos na alegria o oitavo dia no qual também Jesus ressuscitou dos mortos e manifestando-se subiu ao céu”. Santo Agostinho, na última página da Civitate Dei fala do oitavo dia nestes termos: “Este sétimo dia será o nosso sábado, cujo fim não será uma noite, mas o domingo como oitavo dia eterno, que foi consagrado da ressurreição de Cristo; que prefigura o repouso não só do espírito mas também do corpo”.

5. Domingo, dia da Trindade é uma expressão recente, encontramos a partir do século IX. No século XII, começa-se a usar o prefácio da Trindade e o Missal de Pio V indicou como o único prefácio para todos os domingos do tempo ordinário. A partir do século XVI até aos nossos dias o Domingo não é visto como o dia da ressurreição, mas como dia da trindade.
O domingo, dia da redenção não pode não ser também o dia da trindade, porque a obra da salvação é comum às três Pessoas: Deus Pai nos salva por meio do Filho no Espírito Santo. Portanto, tudo vem do Pai, por meio do Filho encarnado na presença no meio de nós do Espírito, que unindo-nos ao Filho reconduz tudo ao Pai.

A teologia do Domingo pode-se desenvolver com os seguintes nomes:
- O Domingo é o dia do Senhor ressuscitado, memorial da sua Páscoa;
- O Domingo é o dia em que o ressuscitado se manifesta à igreja com os dons salvíficos e em particular com a efusão do Espirito, fruto da Páscoa;
- O Domingo é, por excelência, o dia da assembleia convocada para celebrar a presença do Senhor ressuscitado na Palavra e no sacramento;
- O Domingo é o dia da proclamação da Palavra e da celebração da eucaristia, e dos sacramentos em geral
- A assembleia dominical é o dia da comunidade reconciliada, expressão da nova criação e da nova humanidade;
- O Domingo é dia da condivisão e da caridade;
- O Domingo como o dia em que é convocada a assembleia, soblinha a missão da igreja envida para proclamr ao mundo a força salvífica do mistério pascal;
- O Domingo é o dia de alegria, que nasce da experiência dos dons pascais, da qual a igreja usufrui na esperança do cmprimento escatológico;
- O Domingo é também concebido como dia de repouso, como dia da libertação da escravatura, como espaço contemplativo e cultual, como sinal do eterno repous.

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